terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Para 2009.....

Ano Novo



Neste Ano-Novo, faz-te novo, reduz a tua ansiedade, cultiva flores no canteiro da alma, rega de ternura teus sentimentos mais profundos.

Não te mires nos outros; a inveja é um cancro que mina a auto-estima,fomenta a revolta e abre, no centro do coração, o buraco no qual se precipita o próprio invejoso.

Mira-te em ti mesmo, assume teus talentos, acredita em tua criatividade, abraça com amor tua singularidade.

Evita, porém, o olhar narciso.

Sê solidário; ao estender aos outros as tuas mãos estarás oxigenando a própria vida. Não sejas refém de teu egoísmo.

Cuida da língua. Não professes difamações e injúrias.

O ódio destrói quem odeia, não o odiado. Troca a maledicência pela benevolência. Compromete-te a expressar ao menos cinco elogios por dia.

Tua saúde espiritual agradecerá.

Não deixes que a espetacularização da mídia anule tua capacidade de sonhar e te transforme em consumista compulsivo.

A publicidade sugere felicidade e, no entanto, nada oferece senão prazeres
momentâneos.

Centra tua vida em bens infinitos, nunca nos finitos.

Lê muito, reflete, ousa buscar o silêncio neste mundo ruidoso.

Lá encontrarás a ti mesmo e, com certeza, um Outro que vive em ti e quase nunca é escutado.

Cuida da saúde. Caminha, pratica exercícios aeróbicos, sem descuidar de acarinhar tuas rugas e não teme as marcas do tempo em teu corpo.

Freqüenta também uma academia de malhar o espírito. E passa nele os cremes revitalizadores da generosidade e da compaixão.

Não dês importância ao que é fugaz, nem confundas o urgente com o prioritário. Não te deixes guiar pelos modismos.

Faz como Sócrates, observa quantas coisas são oferecidas nas lojas que tu não precisas para ser feliz.

Jamais deixe passar um dia sem um momento de oração. Se não tens fé, mergulha-te em tua vida interior, ainda que por apenas cinco minutos.

Não te deixes desiludir pelo mundo que te cerca. Assim o fizeram seres semelhantes a nós. Saiba que és chamado a transformá-lo.

Em 2009 celebraremos o 61º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Pratica-a em tua casa, com teus filhos e tua (teu) parceira(o).

Não trate tua faxineira como uma semi-escrava. Remunera-a com um salário digno e propicia-lhe melhoria da qualidade de vida.

Arranca de tua mente todos os preconceitos e, de tuas atitudes, todas as discriminações.
Sê tolerante, coloca-te no lugar do outro. Todo ser humano é o centro do Universo e morada viva de Deus.

Antes, indaga a ti mesmo por que provocas em outrem antipatia, rejeição, desgosto. Reveste-te de alegria e descontração.

A vida é breve e, de definitivo, só conhece a morte.

Faz algo para preservar o meio ambiente, despoluir o ar e a água, reduzir o aquecimento global.

Não utilizes material não-biodegradável. Trata a natureza como aquilo que ela é de fato: tua mãe.

Guarda um espaço em teu dia-a-dia para conectar-te com o Transcendente. Deixa que Deus acampe em tua subjetividade. Aprende a fechar os olhos para ver melhor.

Feliz 2009 !!!.


Frei Betto

Inspiração para o pipi....

Fotos: Regina Coeli Carvalho

Portas dos banheiros de Señor Tango, casa de show em Buenos Aires.



domingo, 28 de dezembro de 2008

Um anjo que por mim passou



Médico cancerologista, já calejado com longos 29 anos de atuação profissional, com toda vivencia e experiência que o exercício da medicina nos traz, posso afirmar que cresci e me modifiquei com os dramas vivenciados pelos meus pacientes. Dizem que a dor é quem ensina a gemer.


No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil. Tinha, e tenho ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas nos enternecem e nos surpreendem como suas maneiras simples e diretas de ver o mundo, sem meias verdades.


Nós médicos somos treinados para nos sentirmos "deuses". Só que não o somos! Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem dosado. É este sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além. Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e prepotência, o que não é bom. Quando perdemos um paciente, voltamos à planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos impõe e entendemos que não somos deuses. Somos forçados a reconhecer nossos limites!


Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a freqüentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria. Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes, particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer.


Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por mim.


Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, manipulações, injeções, e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e radioterapia.

Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela entregava o bracinho à enfermeira, e com uma lágrima nos olhos dizia: faça tia, é preciso para eu ficar boa.

Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.


Meu anjo respondeu:


- Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!

Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei:


- E o que a morte representa para você, minha querida?


- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é?


(Lembrei minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)


- É isso mesmo, e então?


- Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?


- É isso mesmo querida, você é muito esperta!



- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!


Fiquei "entupigaitado". Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação.


- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela.


Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao meu anjo: - E o que a saudade significa para você, minha querida?


- Não sabe não tio? Saudade é o amor que fica!


Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um dar uma definição melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica!



Um anjo passou por mim...


Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência.


Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas me deixou uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de grave doença, e a quem nunca mais esqueci. Deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.

Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem chamo "meu anjo, que brilha e resplandece no céu. Imagino ser ela, fulgurante em sua nova e eterna casa.


Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que ensinastes, pela ajuda que me destes.


Que bom que existe saudades! O amor que ficou é eterno.



Rogério Brandão, Médico oncologista clinico.




Outdoor Buenos Aires

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

101º Aniversário de Oscar Niemeyer


"Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida". Oscar Niemeyer


Pensamento do dia...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Interlúdio com Florbela

“Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder… pra me encontrar…”

Florbela Espanca in Amar!

Blogagem Coletiva, organizada pela Flor, daqui, 8 de dezembro, aniversário de nascimento da Florbela.