sexta-feira, 27 de junho de 2008

A extração da pedra da loucura, de Hieronymus Bosch

“Estive doente
doente dos olhos, doente da boca, dos nervos até.
Dos olhos que viram mulheres formosas
da boca que disse poemas em brasa
dos nervos manchados de fumo e café.
Estive doente
estou em repouso, não posso escrever.
Eu quero um punhado de estrelas maduras
eu quero a doçura do verbo viver.”
(De um louco anônimo – transcrito por Caco Barcelos na reportagem “Crime e loucura”, citado por Caio Fernando Abreu in, O ovo apunhalado)

terça-feira, 24 de junho de 2008

24 de Junho - Aniversário de Papai

Meu pai, hoje, estaria completando 100 anos.
Convivemos juntos somente 21 anos, tempo suficiente para deixar-me valores éticos, companheirismo, senso de organização, respeito ao próximo, alegria de viver.
Papai foi generoso de abraços e de afetos.
Ensinou-me o valor do toque, do carinho, da necessidade de expressar meus sentimentos.
Mais de 30 anos convivendo com sua ausência física mas com sua presença nos pequenos detalhes da minha vida.

Pai:

Onde quer que você esteja sei que está sempre recebendo minhas vibrações de harmonia, assim como eu recebo sempre as suas vibrações de força, de coragem...

Obrigada pelos valores que você me transmitiu.

Obrigada por você ter permitido que eu fosse sua filha.

Muita paz pra você!

Regina Coeli Carvalho

sábado, 21 de junho de 2008


Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

“Continuo achando graça nas coisas, gostando cada vez mais das pessoas, curiosa sobre tudo, imune ao vinagre, às amarguras, aos rancores”. Zélia Gattai

terça-feira, 17 de junho de 2008

Aniversário da Damáris

Dia de aniversário é dia de esperança renovada, que nos leva a acreditar que o novo ano será melhor e nossa história daqui para frente, mais bonita. É momento para sentirmos que a solidão não tomou conta de nós, que tivemos sempre alguém por perto.

Que você possa, sempre, encontrar mãos estendidas e braços acolhedores.

Felicidades amiga!

Abraço muito carinhoso procê.

Regina Coeli Carvalho

*Por motivos operacionais não foi possível postar ontem.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

“Tenho medo das pessoas que vivem de certezas. Sinto que o vizinho é dos tais que avançam, erguem a fronte, fingem um pigarro e reclamam: - ´Dúvidas? Não as tenho!´ A minha vontade é dizer-lhe: - ´Pois tenha!´ Não sei como um espírito sem dúvidas não trata de providenciar e, em último caso, de inventar dúvidas urgentes e esplêndidas”.

Nelson Rodrigues

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio



"...o único afrodisíaco verdadeiramente infalível é o amor. Nada consegue deter a paixão acesa de duas pessoas apaixonadas. Neste caso não importam os achaques da existência, o furor dos anos, o envelhecimento físico ou a mesquinhez das oportunidades; os amantes dão um jeito de se amarem porque, por definição, esse é o seu destino." Isabel Allende

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Fábula da Convivência

Na conhecida fábula do filósofo Arthur Schopenhauer, um grupo de porcos-espinhos ia perambulando num dia frio de inverno. Para não congelar, os animais chegavam mais perto uns dos outros. Mas, no momento em que ficavam suficientemente próximos para se aquecer, começavam a se espetar com seus espinhos. Para fazer cessar a dor, dispersavam-se, perdiam o benefício do convívio próximo e recomeçavam a tremer. E o ciclo se repetia, numa infindável luta para descobrir uma distância confortável entre o frio do afastamento e a dor da união. Estarão os seres humanos destinados a encontrar complementos perfeitos no amor? Ou seríamos mais parecidos com os porcos-espinhos, acotovelando-nos na eterna busca de um lugar entre o envolvimento doloroso e o isolamento sem amor?


Os porcos-espinhos de Schopenhauer: a intimidade e seus dilemas - cinco histórias de psicoterapia, Deborah Anna Luepnitz; Ed. José Olympio

Refletindo:

*Até que ponto nossos espinhos estão a ferir nossos companheiros?

*Estamos mantendo uma certa distância com o objetivo de respeitarmos o espaço do outro e não o sufocarmos?

Namorados

"Manter mistério é o encanto do namoro. Mantê-lo enquanto se vive junto é um namoro eterno. Desvele-se aos poucos, descubra devagar, saboreie cada momento, que você terá muitos momentos". Anna Verônica Mautner

terça-feira, 10 de junho de 2008

Anna Clara

Meu dia começou bem. Não tinha duas horas que a filha havia saído de casa e recebi um telefonema: “Mãe estou ligando ‘só’ para dizer que lhe amo.”

Ser mãe é o papel mais prazeroso que desempenho.

Filha querida, meu amor por você é incondicional, está acima de qualquer “bagunça do quarto”.

Obrigada por permitir o meu crescimento junto com o seu.

Regina Cœli Carvalho

segunda-feira, 9 de junho de 2008

...O meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus...como você me doía! De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calado um tempo enorme...só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando! Caio Fernando Abreu

Samba-canção

"Tantos poemas que perdi.

Tantos que ouvi, de graça,

pelo telefone – taí,,

eu fiz tudo pra você gostar,

fui mulher vulgar,

meia-bruxa, meia-fera,

risinho modernista

arranhando na garganta,

malandra, bicha,

bem viada, vândala,

talvez maquiavélica,

e um dia emburrei-me,

vali-me de mesuras

(era comércio, avara,

embora um pouco burra,

porque inteligente me punha

logo rubra, ou ao contrário, cara

pálida que desconhece

o próprio cor-de-rosa,

e tantas fiz, talvez

querendo a glória, a outra

cena à luz de spots,

talvez apenas teu carinho,

mas tantas, tantas fiz..."

Ana Cristina César





domingo, 8 de junho de 2008

Admita...



...que pelo menos uma vez na semana você tem vontade de fazer isso com alguém.

Versão lupina da história de Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez um lobo muito inteligente e irrequieto, que vivia com seus pais na floresta. Sua mãe já havia avisado muitas vezes que não saísse da cova antes do cair da noite, para não esbarrar com algum ser humano que poderia machucá-lo.

Mas, o lobinho, embora fosse muito esperto, era também muito desobediente e, sobretudo, adorava o perfume das flores, a sombra fresca que os ramos das árvores projetavam ao meio-dia e o canto dos azulões. Tão logo a mamãe loba sentava para assistir ao telejornal da manhã, e aproveitando que o papai lobo se encontrava na administração da mina de esmeraldas, o lobinho saía sorrateiramente da cova.

Uma manhã, quando caminhava por uma careira da floresta, deu de cara com um exemplar da temida espécie humana. Cheio de pânico, esperou o disparo com os olhos fechados, porém logo percebeu que aquela menina vestida de vermelho não lhe faria nenhum mal, pois se limitava a observá-lo com curiosidade. O lobinho começou a conversar com ela e, após um tempinho, a menina, por pura ingenuidade, confessou-lhe que estava indo para a casa de sua avó com docinhos envenenados, porque a velha tinha deserdado os pais dela, e queria saber qual era o caminho mais curto.

Em vez de voltar para casa, como seria prudente, o lobinho preferiu indicar o caminho mais comprido para a Chapeuzinho, enquanto ele pegava um atalho mais curto, para avisar a velhinha. É que o lobinho tinha o coração tão grande quanto a boca.

Lobinho chegou antes da impiedosa netinha à casa da avó, e nem bem havia informado a senhora sobre o atentado que Chapeuzinho pretendia realizar, quando ouviram a menina bater na porta. Assustada, a avó quis se esconder em algum canto escuro; não encontrando nada mais escuro do que a boca do lobo, escorregou sem vacilar pela goela do lobinho e se refugiou em seu estômago. Nós já havíamos dito que o lobinho tinha uma boca muito grande. Em seguida, ele vestiu uma touca que era da vovó antes que Chapeuzinho entrasse.

Chapeuzinho aproximou-se do lobo disfarçado de vovozinha e bem depressa começou a desconfiar. "Que orelhas tão grandes você tem!" comentou. "São para lhe ouvir melhor", respondeu o lobo. "E que mãos tão grandes você tem!", acrescentou a garota. "São para lhe acariciar melhor", disfarçou o lobinho. "E que boca tão grande você tem!", observou Chapeuzinho.

Quando o lobo estava para responder, a menina conseguiu ver no fundo de sua garganta os olhos apavorados da vovozinha e, perdendo toda a compostura, pegou um dos docinhos envenenados e atirou-se em busca da anciã pela bocarra aberta do pobre lobinho.

Nesse mesmo instante, passava por ali um temível caçador, que, ao escutar o alvoroço, invadiu a casa e, assim que viu o lobinho, o cruel e sanguinário personagem arremessou-se contra ele armado com uma faca e o matou com o objetivo de utilizar sua pele para fazer um tapete de beira de cama. Para sua surpresa, da barriga do lobinho assassinado pularam a avó e Chapeuzinho, as quais, para proteger a imagem da família, calaram-se sobre a verdadeira história.

Naquela noite, mamãe loba e papai lobo esperaram inutilmente o regresso do lobinho. E continuam ainda a aguardá-lo, com um fiozinho de esperança, porque não conseguem captar toda a profunda crueldade do coração humano. O que fizeram, simplesmente, foi registrar o filho como filhote desaparecido.

Daniel Samper Pizano

Refletindo:

Quando se fala da verdade, existe uma tendência a tornar única a nossa concepção da verdade, atribuindo-lhe unicidade e caráter absoluto. Por isso, quando eu acredito possuir a verdade, estou fazendo ou estabelecendo uma dicotomia segundo a qual, se o outro não pensar como eu, estará equivocado ou em erro. Temos aqui, então, uma reflexão que nos convida a ser mais respeitosos com o ponto de vista dos outros, a não falar em "verdade absoluta", e sim sobre a verdade de cada um, em respeito às demais que certamente existem por aí.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Trecho Para Ser Lido em Linha Reta

Mas que descabida exigência, esta, a de escrever-se sempre bonito.
Escrever é só como a gente, um amontoado de trechos.

Uns, feios; outros, lindos.

Mais que isso:
escrever não precisa ser bonito,
basta mostrar a intensidade do sentir.
Ivy Wyler


O Feijão e o sonho

Minha filha ainda não aprendeu a andar de bicicleta e pede-me sempre que a ajude a andar sem as rodinhas, mas reclama que eu tenho tido pouco tempo para ensiná-la, assim como para as trezentas e dez outras brincadeiras dela. E mais uma vez eu lhe prometi que a encontraria nos sonhos e que nós andaríamos o tempo que ela desejasse, e brincaríamos todas as brincadeiras das suas fantasias. Ela voltou a repetir-me que está tendo dificuldades de encontrar-me e assim não vai conseguir nunca. Apesar do esforço, ela não tem me visto nos sonhos, ou não lembra. Há qualquer coisa de pungente e arrebatador nos argumentos de uma criança e há qualquer coisa que me salva dos meus desacertos, no amor de minha filha. Eu não tenho como lhe explicar que, também, minha vida já não anda sem rodinhas, e que cada vez mais eu tenho dificuldades de fugir dos sonhos dela, embora pareça que viver, por vezes, é sempre irmos nos despedindo dos sonhos de alguém..

César Oliveira

quinta-feira, 5 de junho de 2008


EU E O ESPELHO


"Ninguém pode ver-se a si próprio num espelho, sem se conhecer previamente, caso contrário não é ver-se, mas apenas ver alguém".

Kierkegaard, Soren Aabye - O Desespero Humano - Doença até a Morte" - 1849


Ao ler o texto de Kierkegaard acima citado, espantei-me em ver a grande percepção do filósofo dinamarquês diante de um fato aparentemente simples: "olhar-se no espelho". Talvez seja o mais "corriqueiro" dos atos humanos que é realizado no cotidiano de cada pessoa, inserindo contudo uma perspectiva toda especial no que diz respeito à existência individual.


Segundo Kierkegaard, para que o indivíduo se veja no espelho, torna-se uma condição importante que ele tenha um "conhecimento" prévio de si, ou seja, que o ser humano veja, sinta e perceba quem ele está sendo naquele instante, que ele tenha consciência-de-si.


Quando negamos a nós mesmos a possibilidade de obter essa consciência-de-si, não nos dando conta do que sentimos, pensamos, percebemos e agimos, ampliamos de tal forma essa desconexão individual, que simplesmente usamos o "piloto automático" interno diariamente, que nos leva a um distanciamento cada vez mais profundo de uma vida saudavelmente integrada, visto que nos encontramos longe de nós mesmos.


Um sábio oriental um dia falou: "Um homem no campo de batalha conquista um exército de mil homens. Um outro conquista a si mesmo - e este é maior" (LAL, P. - The Dhammapada, 1967). Por incrível que possa parecer, a idéia quantitativa de sucesso na vida ("conquistar um exército") tem sido a mais promovida no mundo ocidental, em detrimento do cultivo de uma idéia mais qualitativa de sucesso, cuja promoção busca a excelência da saúde individual (conquistar a si mesmo). Sem a devida reflexão do quanto a pessoa se violenta para simplesmente "possuir coisas", o ser humano segue abrindo mão de "ter" a si mesmo, ou seja, de "ser a sua grande conquista". É esse paradoxo da existência que leva o indivíduo a se perguntar: quem é essa pessoa que eu vejo no espelho? Esse sou eu? Eu não acredito no que estou vendo!


Erving e Miriam Polster falam que "as pessoas são notoriamente nebulosas, até mesmo distorcem a percepção que têm de si mesmas. Elas escutam gravações de suas vozes ou se vêem em filmes, e ficam incrédulas" (Polster, Erving & Polster, Miriam. "Gestalt Terapia Integrada", 1979). Esta postura incrédula diante da percepção-de-si, é muito bem ilustrada através do filme de Bruce Joel Rubin, "My Life"(Minha Vida), protagonizado por Michael Keaton e Nicole Kidman.


Na história, Keaton representa um "bem-sucedido" relações públicas de uma empresa, que se vê surpreendido pela vida repentinamente, quando se acha acometido de um câncer terminal. Vendo-se nos momentos finais de sua vida e, percebendo o pouco tempo de que dispunha para receber o filho que brevemente nasceria, começa a fazer uma fita de vídeo, que para ele seria uma espécie de lembrança de si para o seu filho, a fim de que este mais tarde o "conhecesse". Dando continuidade a este seu empreendimento, o protagonista fica perplexo com a opinião que alguns de seus colegas dão sobre sua pessoa. Perplexo diz: "o que é isso? Será que eu sou assim?".


No decorrer da trama ele busca, com a ajuda de sua esposa (Nicole Kidman), um tratamento alternativo para a sua "doença", que começa a clarificar o afastamento de si no qual ele vivia, cujas conseqüências agora ele estava sentindo, ou seja: a doença, os conflitos internos e as dificuldades de relacionamentos.

Para poder lidar com estas questões, ele começa a aprender que a grande viagem para realizar grandes coisas na vida não é para fora, mas para o interior de si mesmo, objetivando-se enquanto pessoa.


A objetividade de si "consiste pois em um processo de exploração de si, a procura do eu autêntico para além da imagem de si que o indivíduo quer projetar e aquela que de fato apresenta aos outros" (Mailhiot, Gérard Bernard. "Dinâmica e Gênese dos Grupos", 1991). Penso que seja esta exploração de si mesmo, o conhecer-se previamente ao qual Kierkegaard se referia, que dará ao indivíduo uma percepção clara de quem está do outro lado do espelho.


Essa busca de si pode apaziguar temores mil que se fundamentam nas fantasias e fantasmas por nós criados ao longo da vida, pode integrar as partes distanciadas do nosso ser, permitindo-nos ter um bom contato com a nossa própria pessoa e com o viver do outro. Isto é ilustrado por E. E. Cummings no seu poema, a saber:


"Um total estranho, num dia negro

Bateu, tirando de dentro de mim o inferno

E ele achou difícil o perdão porque

(assim se revelou) ele era eu mesmo –

Mas agora aquele demônio e eu

Somos amigos imortais".


Fica então a pergunta: "Quem é a pessoa que você vê ao olhar-se no espelho?".


Marco Antonio Sales

Psicoterapeuta Existencial formado pela SAEP

Pós-graduando em Filosofia Contemporânea - UERJ

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Lou Salomé

"Só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser sentido como tal.

Assim, nada há de mais inepto em amor do que se adaptar um ao outro, de se polir um contra o outro, e todo esse sistema interminável de concessões mútuas... e, quanto mais os seres chegam ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto de se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, de se transformar um em parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em um solo particular, a fim de se tornar todo um mundo para o outro."

Lou Salomé, in Os sentidos da paixão, Cia. das Letras.

domingo, 1 de junho de 2008

OLHA O OLHO DA MENINA

O primeiro livro no mundo com versão integral disponível na Internet!

Texto de Marisa Prado

Ilustrado por Ziraldo

http://ipanema.com/livros/olha/cover.htm


“Que as pessoas compreendam claramente que, sempre que ameaçam alguém ou humilham, ferem desnecessariamente, dominam ou rejeitam outro ser humano, elas se transformam em forças para a criação da psicopatologia, mesmo que sejam forças pequenas. Que elas reconheçam também que todo homem que é bom, prestativo, decente, psicologicamente democrático, afetivo e dedicado, é uma força psicoterapêutica, ainda que pequena.

Abraham H. Maslow


Meu coração canta e chora neste momento. É feliz porque ama, mas chora porque a emoção transborda, pinga em gotas sentidas. A dor dos outros me comove profundamente. Quando se fala do coração, o meu, atento, escuta e entra em relação. Sou feliz por me descobrir assim mais humana."

Regina Coeli Carvalho

Encontrei essa anotação em um caderno do longínquo ano de 1971.