domingo, 31 de outubro de 2010

Minha Bandeira


Minha bandeira
O verde da minha esperança amarelou de desilusão.
O branco manchou de sangue com tanta corrupção.
O azul está desbotado porque os sonhos
estão calados, encurralados, adiados,
Aguardando a próxima eleição.*

*Próxima eleição em 2014, porque nessa sonho existe não.
Regina Coeli Carvalho

sábado, 30 de outubro de 2010

Em tempos de eleição....

...É bom lembrar:

Só de sacanagem

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova? Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro.

Do meu dinheiro, do nosso dinheiro, Que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós. Para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz. Mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração tá no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó E dos justos que os precederam: “Não roubarás”. “Devolva o lápis do coleguinha”. “Esse apontador não é seu, minha filha”.

Pois bem, se mexeram comigo, Com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, Então agora eu vou sacanear: Mais honesta ainda vou ficar!

Só de sacanagem! Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba” E eu vou dizer: “Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez”. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.

Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau. Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”. E eu direi: “Não admito, minha esperança é imortal”. E eu repito: “Ouviram? IMORTAL!”

Sei que não dá para mudar o começo Mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

Elisa Lucinda

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Nick Vujicic, Um ser iluminado


Se você ainda tem alguma coisa que lhe incomoda, na sua aparência, nas gordurinhas a mais, nas ruguinhas que vão aparecendo com o tempo, nas manchas senis, no seio pequeno, na bunda que não está dentro dos "padrões nacionais", no vestuário antiquado precisando dar uma repaginada, na dor da unha do pé, enfim nos calos existenciais, perca uns minutinhos do seu tempo e assista o Nick.
Depois me conta o que achou.


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Revisitando Drummond

Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos
de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
Carlos Drummond de Andrade, In Sentimento do Mundo, 1940

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O livro que virou leite....

São os braços que trabalham e as mãos que dividem, que certamente vão erguer um mundo mais digno e justo.

Citei em algum texto o trabalho com crianças soropositivas que realizo há 18 anos.
Helena de Paula, escritora lá do Recanto, fez contato comigo se disponibilizando a ajudar a campanha de alguma forma.
Trocamos e-mails e enviei alguns dados sobre o trabalho realizado.
Recebi, no dia 14, um exemplar do seu livro “Moinhos de Vento”, para que eu o transformasse em alguma forma de benefício para as crianças do projeto.
Vendi o livro para um amigo por R$100,00 e com esse valor comprei 25 sacos de leite em pó que irão reforçar a doação deste mês.
Registro meu agradecimento e meu carinho, na certeza de que quando fazemos algo de bom para o outro, o principal beneficiado somos nós.
Caso você queira adquirir o livro da Helena, é só clicar aqui.
Aproveito a oportunidade para enviar meu abraço, meu carinho, minha admiração para Elizabeth Martins, que está aniversariando hoje, amiga que iniciou o trabalho junto às crianças soropositivas. Querida, com você e através de você pude crescer como pessoa e aprender continuamente.
Meu afeto para Helena, Beth e meu amigo “anônimo” que adquiriu o livro com um preço superfaturado.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Justiça: Caso Joanna Marcenal


Caso Joanna Marcenal, mais um dos casos de impunidade nesse nosso país.
Conto com a sua ajuda para nos ajudar a divulgar.


Texto retirado do Blog, com autorização do uso da imagem.

Pegue o selinho ao lado  e leve para seu blog.

Em  breve organizaremos uma blogagem coletiva.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um desembargador chamado Totó...

Eram 14h30 de quarta-feira quando o desembargador Antonio Carlos Malheiros, de 59 anos, agachou e encarou a garota Alexandra, de 6, no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. "Você consegue ler o que está escrito aqui?", ele perguntou, apontando o crachá, que balançava pendurado no avental colorido. "É Antonio...", respondeu a menina, com voz tímida. "Sim, querida, é Antonio. Mas você vai me chamar diferente." O magistrado, então, fez uma pausa teatral, tirou do bolso um nariz de palhaço e anunciou, sorrindo: "Vai me chamar de Totó". A criança riu até se dobrar.

Antonio Carlos Malheiros, professor de três universidades, coordenador da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), presidente por dois mandatos da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, coordenador nacional de campanha do Conselho Nacional de Justiça. E também, nos momentos de maior simplicidade - quando "realmente nos tornamos nós mesmos", nas palavras dele próprio -, o Totó. "Não é simples, bonito? É natural, apelido que gosto e no qual me reconheço."

Um carinhoso apelido que serve, principalmente, para se aproximar. Desde 1997, o desembargador é contador de histórias voluntário da Associação Viva e Deixe Viver, que treina leitores para crianças internadas em 87 hospitais do País. No caso de Malheiros, quem ouve a experiente voz todas as semanas são crianças do Emílio Ribas - a maioria, portadora de HIV. "Esqueço tudo quando estou com o livro aberto no colo, contando histórias que ajudam a enfrentar horas difíceis. E, geralmente, termina em gargalhadas."

Nem sempre foi assim. Nas primeiras histórias que leu, Malheiros chegou a ser advertido pelas enfermeiras. Diziam que ele lia Peter Pan "como se pronunciasse votos num julgamento". "Terminei a primeira história, olhei para a criança e vi cara de choro. Pensei: "não vai dar certo"", lembrou, bem-humorado. "Mas as crianças se estouraram de rir quando, sem querer, chutei a mesa e derrubei uma montanha de bacias de metal. Foi assim, desajeitado, que percebi que era preciso naturalidade. Com as crianças, aprendemos a simplificar."

Na rua. "Precisaria de dias de 80 horas", diz o desembargador, que nasceu e sempre viveu no Jardim Paulista, zona sul da capital. Para entender o porquê, basta passar parte do dia com ele. Além dos 50 votos de sessões de julgamentos semanais, há palestras - na quarta-feira passada, em Mirassol, a 450 quilômetros da capital -, eventos como a comemoração dos 20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente, espremida em 25 minutos no meio da agenda, aulas nas faculdades e, para terminar, o voluntariado. "Melhor momento do dia."

Serviços voluntários, aliás, acompanham Malheiros desde os 13 anos, quando ingressou num grupo do Colégio São Luís que visitava moradores de rua. Foi no percurso entre as Praças da Sé e da República, no centro, que conseguiu quebrar as primeiras "barreiras de preconceito" - algo que, diz, "todo juiz deveria fazer". "Magistrado tem de sentir o gosto, o cheiro dos problemas antes de decidir. Tem de ir à rua, conhecer sua comunidade. Não pode ficar encastelado, imaginando que lida apenas com papel."

Episódios de sua vida mostram que não fala da boca para fora. No fim dos anos 1970, o jovem advogado ia tanto às ruas depois do expediente que, certa vez, chegou a dormir num banco da Praça da Sé. "Estava cansado demais, depois de um dia de trabalho. Cochilei por uma hora no meio de um grupo de 15 adolescentes. Acordei sobressaltado, com o preconceito gritando." Pulou do banco e apalpou todos os bolsos. Mas tudo estava lá. E o que viu ao redor o impressionou. "Os 15 garotos deitavam num círculo em volta do banco. Quando me despedi, disseram que era para me proteger. Senti vergonha e, ali, caiu parte do preconceito."

Algo semelhante ocorreu quando passou a visitar, como voluntário da Pastoral da Saúde, doentes do "Hospital da Aids", como era conhecido o Emílio Ribas nas décadas de 1980 e 1990. "Ali, desenvolvi o conceito de família formada pelo afeto, que virou dissertação de mestrado." A ideia surgiu quando cuidava de um cantor homossexual portador de HIV, em estágio terminal - sob os olhos do voluntário, ele morria, mas sua mãe negava-se a entrar no quarto, pois não o tinha "perdoado por ser homossexual". "Então, entrou no quarto um homem engravatado e beijou a testa do rapaz com carinho. Eu olhei para a mãe, para o rapaz e me perguntei: "Qual dos dois é sua família?" Caiu outro preconceito", contou. "Entender o sofrimento ajuda a decidir. Vira parte da formação pessoal e profissional."

Senhor diversidade. A forma como Malheiros trata as pessoas o credencia, entre amigos, a receber outro apelido: "Senhor Diversidade". "É sempre um sorriso no rosto, oportunidades concedidas, o apoio estampado na cara", conta o publicitário Valdir Cimino, seu parceiro na contação de histórias. "É referência em sua área, mas nunca deixa de dar "bom dia" ao porteiro, ao faxineiro, ao paciente."

Lembra palavras que Malheiros repetiu em dois momentos, na quarta passada. "Olhar de igual para igual requer simplicidade. Seja decidindo um julgamento ou contando histórias, fazendo voz de gago, vestido de palhaço."


Obrigada Mimi pelo envio. A leitura desta reportagem é um alento no meio de tantas notícias ruins.

sábado, 16 de outubro de 2010

Professar...

Em criança gostava muito de brincar de professora. Colocava meus bonecos sentados e como eram poucos, completava a “turma” com garrafas de refrigerantes. Assim tinha uma classe numerosa. Vivia cercada de papéis, quadro negro, apagador, giz e lápis de colorir.
Tínhamos um amigo da família que um dia me deu um caixote muito grande, acho que era de transportar bacalhau, e ali eu fiz a minha escola.
Ao completar o ginásio já tinha vontade de ser psicóloga e cursar o antigo curso normal não me daria embasamento para fazer o vestibular para Psicologia. Optei por fazer o curso científico e não me formei em professora primária.
Durante a minha graduação, fiz matérias pedagógicas para poder tirar a licenciatura em Psicologia.
Comecei, ainda no 4º ano, a lecionar para turmas de Formação de Professores.
Profissão que sempre exerci com muito prazer. Aprendi muito com meus alunos, minha memória afetiva guarda lembranças que marcaram momentos especiais da minha vida.
Em 1981, passando por um momento delicado da minha vida, vendo meu 1º casamento, que só tinha 3 anos, começando a desmoronar, andava triste, mas procurava não passar esse sentimento em sala de aula.
Naquela época tinha vontade de ganhar um ursinho, assunto que nunca havia comentado com alguém, pois após o expressar do meu desejo o presente poderia chegar, mas não teria graça, gostaria de ganha-lo porque achava um presente fofo.
Dia de aniversário, chego à sala de aula e encontro uma festa surpresa, alunos prepararam um livreto com dedicatórias em páginas individuais e acompanhado desta relíquia, o presente: O urso tão desejado.
Não preciso dizer que chorei horrores de emoção. Como podiam aquelas meninas de 15, 16 anos, terem tanta sensibilidade, perceberem o meu momento, momento que precisava de colo, de acolhimento?
Como adivinharam o presente que durante anos eu sonhei em receber?
A cada dia me apaixonava mais pelo processo ensino-aprendizagem, pela troca com o outro, pelo ensinar e aprender.
Tive um amigo, Carlos, professor de Literatura que a cada vez que eu chegava à sala dos professores falando meus projetos, comentando as aulas, o desempenho dos alunos, ele dizia que eu tinha “orgasmos pedagógicos” e todos riam dessa minha motivação, que para alguns, era exacerbada.
E assim durante 31 anos trabalhei com Formação de Professores. Há dois anos me aposentei no Estado, não sentia mais motivação em preparar professores para atuar em turmas de 1ª a 4ª séries que não tinham amor à profissão, que não chegavam ali por um ideal e sim através de um sistema de matrículas que encaminha o aluno para a escola mais próxima de sua residência. Fui me decepcionando e não queria ser cúmplice num sistema de ensino capenga, sem valores, sem ideais.
Penso que o Professor deveria chamar-se PROFESSAR.
Professar idéias,
Professar paixão pelo outro,
Professar o respeito pelo aluno,
Professar o sentimento da gratidão,
Professar o amor pela profissão.
Obrigada a todos os alunos que passaram na minha vida profissional, hoje muitos são meus amigos pessoais, que me fizeram CRES- SER!

Registro meu carinho especial para amigos professores pelos quais nutro uma profunda admiração:
Aída Gonçalves Ferreira, Anna Maria Lima, Denise Feresin, Elka Carvalho, Filipe Couto, Geni dos Santos, Georgete Lopes, Jaqueline Moulin, Jayme Nunes, Luana Siqueira, Maria Alice Ferreira, Maria Lucia, Marília Soares, Miriam Sofiatti, Nilce Aguilera, Mônica Paiva, Roberto Leal, Silvio Ferreira, Valdelice Gomes, Vilme Lobianco.

E aos meu mestres inesquecíveis:
Dra. Nise da Silveira , Professor Antonio Soares Malveira , Professora Maria das Graças, Professor Helio Alonso, Professor Julio , Professora Vilma Longo e Tia Alba, minha 1ª professora.

Publicado no Recanto das Letras em 15/10/2010
Código do texto: T2558783


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Revisitando Artur da Távola

O encontro e a ocupação do próprio espaço implica a descoberta (tranqüila ou dolorosa) do que é realmente nosso e do que é dos outros e ficou preso dentro de nós. Aí está uma das descobertas fundamentais do ser humano.
Descobrir e ocupar o próprio espaço é encontrar a verdade existencial: no bom e no ruim que tenhamos. É ocupar com material próprio tudo o que somos e fazemos. É encontrar e seguir o próprio destino. Não o destino, no sentido fatalista. Mas o destino no sentido da destinação profunda do que somos, fazemos e queremos.
Artur da Távola, In Alguém que já não fui.

sábado, 9 de outubro de 2010