segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Palhaço Palito


Ano de 1995 procurávamos uma atração para a Festa do Dia das Crianças no Hospital Infantil do Fundão.
Uma amiga entrou em contato com o Palhaço Palito para saber sobre seu cachê. Quando ele foi informado do objetivo da festa prontamente concordou em participar sem que fosse necessário qualquer pagamento para sua apresentação.
Nessa época realizávamos a festa em um pequeno espaço da entrada do hospital.
Ele chegou e foi se arrumar no auditório. Depois de caracterizado de palhaço, com maquiagem e seus devidos adereços, me chamou para saber um pouco sobre as crianças.
Quando informado que eram crianças soropositivas, que algumas brincadeiras não poderiam ser realizadas, pois eram muito frágeis quis saber mais sobre os efeitos da doença.
À medida que eu relatava o estado das crianças as suas lágrimas misturavam-se com sua maquiagem.
Minha filha, então com 5 anos, espantada perguntou-me:
“Mãe, palhaço chora?”
Essa imagem do Palhaço chorando guardo na minha memória afetiva com muito carinho.
Hoje, Dia do Palhaço, deixo registrada minha admiração e eterna gratidão por levar alegria e proporcionar muitas risadas para nossas crianças e para as crianças que ainda existem em nós.
Obrigada, Palhaço Palito!  

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

1º de Dezembro – Dia Mundial de Combate à AIDS



Durante muitos anos convivendo com crianças soropositas assisti a muitas mortes. Tempo em que não existiam os famosos coquetéis.
Embora esse final fosse esperado, pois se encontravam em estado terminal o falecimento dessas crianças sempre foi motivo de grande tristeza.
Hoje a sobrevida é maior e aquela aparência esquálida não mais se apresenta.
Essas perdas, cujos rostinhos ainda fazem parte da minha memória afetiva, além do sofrimento empático deixaram ganhos na minha maneira de encarar a vida.
Agradeço a oportunidade de ter aprendido grandes lições desses seres tão especiais.
No Dia Mundial de Combate a AIDs, minha solidariedade aos portadores de HIV e minha gratidão à amiga Elizabeth Martins que iniciou o trabalho voluntário junto às crianças soropositivas do Hospital Infantil do Fundão e me levou a conhecer e me engajar em um mundo completamente diferente daquele em que vivia.
Dante, Cecília, Amanda, Valéria, Paulinho e tantas crianças que se foram.
Dezenove anos tentando amenizar o sofrimento e ajudar na melhoria de condição de vida dessas crianças.
Resistimos bravamente a nos tornarmos uma “ONG”, nosso trabalho de formiguinha sempre deu certo e partidárias do velho ditado: “Em time que está ganhando não se mexe”, há dezenove anos estamos juntos.
Minha saudade ao amigo “Paulo Palavrão” grande colaborador do nosso trabalho, que após a sua partida nossas festas perderam o brilho emanado da sua alegria.
Minha saudade, também, da amiga Marilucia e do amigo André Filho que partiram vitimados por esse vírus agravado ao vírus da ignorância e discriminação em uma época que o paciente soropositivo era visto como um indivíduo perigoso à sociedade.
Nesse dia agradeço especialmente ao jovem Rosemberg Neto um dos nossos colaboradores no serviço pesado, transportando para o caminhão os presentes das crianças, carregador dos sacos do Papai Noel, garçom das crianças e pau para toda obra nas nossas festas.
Hoje, nosso jovem encontra-se internado em estado grave, vítima de uma meningite.
Daqui enviamos de volta toda energia positiva e alegria que durante anos ele transmitiu as nossas crianças.
Volta logo, Rosemberg, o mundo precisa muito de você.
Regina Coeli Carvalho

Lembrando sempre que a prevenção é o melhor remédio.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Maracanã, Fluminense e o presente significativo


Na adolescência frequentei com assiduidade o Maracanã..
Dia de jogo do Fluminense encontrava a saudosa amiga Dalva e partíamos serelepes, devidamente paramentas com nossas camisas listradas de verde,grená e branco em direção ao estádio.
Ao caminhar pela rua em que morava percebia um olhar de admiração de um senhor morador da localidade. Com o passar do tempo discretamente ele dizia ao me ver passar: “Viva o Flu”. Um dia fui abordada por ele que me entregou um cartão com a recomendação de que eu estava de posse de uma raridade. Ele tinha jogado pelo Fluminense antes mesmo do meu nascimento.
Guardo esse cartão com muito carinho e já está destinado coma “herança” para uma pessoa especial torcedora do Fluminense.
São esses presentes que não são comprados em lojas, mas que chegam embrulhados de afeto que marcam pelo significado da oferta.

 
Regina Coeli Carvalho
Publicado no Recanto das Letras em 22/11/2012
Código do texto: T3998591

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Eu e (alguns dos) meus homens


Eu e (alguns dos) meus homens

Li Platão pra saber que não quero amores platônicos e que a vida real não está no mundo sensível, idealizado.
Aristóteles me ensinou que a metafísica de um relacionamento me seduz mais que a própria química ou o físico.
Descartes me deu a deixa do “gozo, logo existo”.
Quando Sartre me disse que o inferno era o outro, descobri também um paraíso ali.
E Nietzsche matando Deus, me deu permissão pra pecados deliciosos.
(A Igreja me ensinou a pecar).
Hegel era um chato.
Maquiavel me deu estratégias que não usei, não gosto de jogos de sedução, " canso, logo desisto"( Descartes de novo!).
Kant me ensinou que ser racional pode ser bem mais prático que romântico.
Schopenhauer me fez entender sobre a vontade insaciável que nos provoca o tédio.
Já me deitei com Kierkegaard.
Freud me apresentou Édipos, homens que me namoravam porque não podiam casar com suas próprias mães.
Wittgneistein eu abandonei antes de tentar entender.
Heidegger me falou da angústia que nos recolhe e renova.Aprendi muito sobre a autenticidade com ele.
Derrida desconstruiu tudo. Pra Foucault, sexo era phoder!

Mas foi um poeta, Manoel de Barros, que açucarou meu coração com açucenas.

Marla de Queiroz, in Flores de Dentro

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Onde está Joana?



Pedido da Lenore, mãe da Joana:
Sejam minhas pontes, me ajudem a descobrir!!!!
É muito triste nada saber sobre minha JOANA.
Maiores informações: Desaparecidos do Brasil

 "Todos nós somos construtores dessa ponte que anula distâncias". Mia Couto
Que possamos ser pontes na busca por Joana.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Operação Asfalto Liso??????


Enquanto o Sr. Eduardo Paes propaga as grandes obras da cidade, fotografei da minha janela um pequeno trecho da Rua das Laranjeiras, rua de acesso ao Cristo Redentor.
A obra de arte é fruto da Operação Asfalto Liso,tão alardeada pelo nosso prefeitinho.
Isso porque estamos bem perto do Palácio Guanabara, sede do Governo do Rio de Janeiro.
Imaginem nos cantões da cidade.
SOMOS UM RIO: maquiado e remendado.




sábado, 3 de novembro de 2012

Obrigada, Heleninha


Durante muitos anos o dia 3 de novembro era dedicado a minha mãe.
Usava meus poucos dotes culinários para preparar seu bolo de aniversário.
Casa sempre cheia. Filhos, noras, genros, netos, bisnetos, amigos e quem mais chegasse.
Seu coração e disponibilidade para o outro estavam sempre abertos do tipo “sempre cabe mais um”.
Com ela aprendi a dividir e multiplicar afetos e principalmente o valor da gratidão.
Obrigada, Heleninha, por tudo que você deixou marcado em mim.
Feliz aniversário onde quer que você esteja.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Use suas armas sem moderação


Imagem de autoria desconhecida*

Encontrei essa foto em uma postagem no facebook, fui pesquisar a autoria, mas não consegui saber quem a produziu.
A linguagem não verbal que a foto destaca nos mostra o nosso poder de denunciar e cobrar das nossas autoridades o que nos incomoda ou nos causa indignação.
Nossas armas são as máquinas fotográficas, as câmeras dos celulares, nossas vozes e gritos através das redes sociais.
Hoje somos milhões a usar a internet e através dela nos tornamos fiscais dos desmandos, das falcatruas, das injustiças.
Use suas armas sem moderação.
Regina Coeli Carvalho

Para nossa reflexão:
”Aprendi com o tempo que não bastava apenas ficar indignada com injustiças.
passei a participar de protestos, passeatas e eventos contra homofobia, violência, maus tratos aos animais e tudo aquilo que mancha a dignidade.
Partir para a ação pacífica é uma atitude democrática e valiosa.”
Anita Costa Prado

*Quem souber a autoria da foto solicito a gentileza de me enviar o autor.


Publicado no Recanto das Letras
Regina Coeli Carvalho em 01/11/2012
Código do texto: T3964413
Classificação de conteúdo: seguro

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Seu Jorge, Negro Drama e o Racismo na nossa cara.


Foto: Nana Moraes


Negro drama,
Entre o sucesso e a lama,
Dinheiro, problemas,
Inveja, luxo, fama.

Negro drama,
Cabelo crespo,
E a pele escura,
A ferida, a chaga,
A procura da cura.
Trecho de Negro Drama, Racionais Mc’s

Brunorico em seu relato-desabafo emocionante nos mostra o drama do negro, a alienação do carioca e o racismo que bate na nossa cara.

"Ignorância que cega e individualiza os seres cercados em seus condomínios..."

Leia: Salve Jorge!

sábado, 20 de outubro de 2012

Joanna Marcenal


Joanninha,
Infelizmente não a conheci em vida, mas aprendi a lhe amar através das suas fotos, das histórias contadas pela sua mamãe. Pela sua garra em permanecer em coma durante 26 dias para que a verdade pudesse vir à tona.
Mundo cruel esse em que você viveu durante cinco anos, onde pessoas maltratam crianças para se vingarem da rejeição.
Falsos profetas pregam a paz, mas seus comportamentos diabólicos denunciam suas mentes perversas.
Pessoas que se acham poderosas são cúmplices de crimes hediondos, porém todos trazem na testa a marca da tortura.
Hoje é seu aniversário - uso o presente, pois você permanece VIVA no coração de todos que lhe amam! Faz 8 anos que você nasceu para trazer alegria para família Marcenal.
Nessa cartinha, segue meu compromisso em lutar por JUSTIÇA independente de qualquer ameaça ou dificuldade que surja no caminho.
Joanna Marcenal, hoje você é a filha de todos que querem acreditar na imparcialidade dos que fizeram o juramento de exercer com dignidade e independência defendendo a Constituição, os direitos humanos, a justiça social e a boa aplicação das leis.
Nós continuamos a lutar por um mundo mais digno e humano, por uma sociedade ética e um poder judiciário que sacie a fome e a sede de justiça.


*Das 8 faixas colocadas no Rio de Janeiro essa eles não conseguiram arrancar.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Atenção seu prefeito o Largo do Machado está precisando de uma limpezinha!

O Prefeito Eduardo Paes,aquele que está se sentindo, precisa dar um passeio pelo Largo do Machado.
Esse vazamento já fez aniversário.
Tão preocupado com as obras para a Copa e Olimpíadas e esquecendo que a cidade não precisa ser maquiada para os turistas, necessita ser boa para quem paga impostos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Professor...


Professor
Um dia, alguém se propôs a trabalhar na construção de vidas. Estudou Psicologia, Filosofia e as melhores técnicas de comunicação. Passou minutos, horas, dias, observando o comportamento de todas as faixas etárias do ser humano. Sentiu-se vocacionado e, atendendo aos apelos do coração, inscreveu-se na batalha de frente da luta milenar contra o analfabetismo.
Armado de pouquíssimos recursos materiais postou-se de peito aberto, levando flechadas municipais, estaduais, federais.
Alguém especializou-se nas oficinas do ser humano e candidatou-se a reformar conceitos e valores da educação mal orientada. Inscreveu-se no concurso da vida, não se importando em sacrificar o próprio corpo na concorrência desleal de convênios, convenções, tratados e dissídios.
Alguém fez-se alheio às dificuldades, tendo plena certeza delas. Saiu disposto a questionar leis, portarias, resoluções e regimentos. Nos desmaios da sobrevivência, impôs-se.
Alguém foi nomeado, designado, empossado para o exercício do magistério. Não se perdeu no labirinto do caminho e nem se assustou com o fantasma da exigência impossível. Saiu a procurar o aluno perdido nas balas perdidas da guerra civil.
Alguém convive com a distância, com a fome, com a injustiça, com a carência e a canseira. Contudo ensina gerações a acreditar no futuro, a ter fé e não se deter.
Para um ser assim tão especial, só um nome poderia identificá-lo: professor.

Ivone Boechat – Revista Mundo Jovem, outubro/2007.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sugestões de presentes para o Dia da Criança





Diariamente ao abrir minha caixa de entrada de e-mails me deparo com uma série de sugestões de presentes para o dia das crianças.
Cada vez mais substituímos o Ter pelo Ser. Muitos pais compensam sua falta de tempo, muitas vezes de afeto, com o brinquedo caro que irá se juntar aos demais e brevemente será esquecido, pois outros estarão na sua lista de desejos.
No dia da criança leve seu filho para brincar no parque, correr no mato, pular na água, se esbaldar de brincar.
Mais vale um joelho arranhado do que uma “alma” fraturada.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Homem que Amava Caixas


Estive na semana passada visitando a Primavera dos Livros no Museu da República.
Lamento esse evento ser tão pouco divulgado. Ótimos livros, bons descontos e uma grande variedade de livros infantis.
Embora não trabalhe com crianças uso muitas histórias infantis no mundo adulto.
“O homem que amava caixas” nos mostra que o amor nem sempre é declarado através das palavras.

“Este livro, delicadamente, explora a complexidade das emoções envolvidas quando se ama alguém, e mostra que, às vezes, o amor pode ser demonstrado através de atos e não de palavras. As ilustrações, de um colorido vivo, complementam o texto sensível e delicado.”

Autor e Ilustrador: Stephen Michael King
Editora: Brinque.Book

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O Muro


Uma oportunidade de enxergar através dos olhos de jovens da favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, a amplitude desses olhares sobre seu espaço de vida.

 
“O Muro” é uma instalação interativa idealizada pela equipe do projeto “EU SOU” a partir de fotos realizadas por 80 crianças e adolescentes moradores do Jacarezinho.
Esse projeto é resultante da revisão de uma estética até então aprisionada por critérios de beleza e qualidade sempre distantes desses jovens. Na verdade, são critérios localizados do outro lado do “muro social” que divide a cidade.


Museu da República
Rua do Catete, 153
Local: Jardim
Horário: 8h às 18h
Período: 24 de setembro a 9 de outubro

Mais informações sobre o Projeto Social Eu Sou: aqui

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Invasão de privacidade



Recebi hoje, 24 de Setembro de 2012, uma correspondência com a indicação do Senador da República pelo Distrito Federal, Cristovam Buarque, apoiando o candidato a vereador Jorge Magdaleno, PDT.
Segundo o Senador o candidato em questão é “O Vereador da Previdência do Povo”.
Como sou funcionária aposentada do Estado do Rio de Janeiro acredito que meus dados foram disponibilizados através do RioPrevidência.
Registro minha indignação, pois se nosso cadastro é oferecido para candidatos pode ser usados para outros fins.
Com a minha privacidade invadida o caminho encontrado foi registrar a ocorrência no site do TRE.

“Número de registro de envio:2012------
Data e hora de envio:24/09/2012 20:00:22
Prezado usuário, caso deseje acompanhar o andamento da sua denúncia anote os dados acima e ligue para a 023ª ZE do município de RIO DE JANEIRO no número (21) 2524-3638”

Não acredito que haja algum tipo de punição, mas cumpri meu papel de eleitora e cidadã indignada.
Esse é o Rio que eu NÃO QUERO.

sábado, 22 de setembro de 2012

Esclarecimento ao Deputado Pedro Paulo, coordenador da campanha do candidato Eduardo Paes


Foto Marta Antunes, disponibilizada no Facebook

 
Esclarecimento ao Deputado Pedro Paulo, coordenador da campanha do candidato Eduardo Paes

Ao ler na coluna Informe do dia, do Jornal O Dia de 22-09-2012, a declaração, em tom jocoso, do deputado Pedro Paulo, um dos coordenadores da campanha do Sr. Eduardo Paes, ironizando a frase usada por artistas que apóiam Marcelo Freixo: “Sou São Pedro e fecho com Eduardo Paes”, gostaria de informar-lhe que São Pedro deve ter fechado com o Freixo e a chuva que desabonou no Rio de Janeiro, horas antes do comício histórico, desceu com o objetivo de lavar a cidade do lamaçal em que ela se encontra.
Felizmente a chuva não impediu que milhares de eleitores do Freixo comparecessem ao comício, embora não fossem servidores intimados por e-mail, com o “delicado” convite alertando que a presença era obrigatória.*
Os eleitores de Freixo foram convidados através das redes sociais e chegaram por lá encharcados, após engarrafamentos causados pelo trânsito caótico da cidade, problemas nos trens, metrô, esses acontecimentos diários que atravancam a vida do carioca.
Estivemos lá sem ônibus fretados, sem cachês de “ajuda de custo”, sem lanchinhos distribuídos ao final.
Nossa presença na campanha do Marcelo Freixo e no comício histórico foi unicamente para demonstrarmos que queremos MUDANÇAS.
Não queremos mais ser governados por partidos em disputas de cargos, por coligações estapafúrdias, por deboches com o eleitor, com maquiagens na cidade.
Eu não quero fazer parte desse “Somos um Rio” fictício, o Rio que quero é o Rio rebelde com participação massiva da juventude como tenho visto nos últimos meses.
O Rio de Janeiro PRECISA de outros homens, homens com ideais.
Regina Coeli Carvalho


terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Rio rebelde


O Rio rebelde
Começo pelas propostas defendidas pelo candidato.

Sobre a educação, o diagnóstico é preciso: "As escolas públicas estão sem alma." Educação séria, em qualquer lugar do mundo, requer horário integral e professores bem pagos, excluída a famigerada "terceirização", que destrói os vínculos entre os funcionários e os serviços. Em cada escola, autonomia pedagógica, observados parâmetros democraticamente construídos.

A saúde pública também deve basear-se em médicos, enfermeiros e auxiliares concursados, estáveis e decentemente remunerados, encerrando-se a experiência das Organizações de Saúde/OS, uma privatização mascarada, baseada na anarquia salarial e na falta de compromisso dos profissionais com os centros de saúde e os hospitais: "Vamos fazer concurso público, até porque o dinheiro que banca as OS é público e muito." Quanto à habitação popular, critérios rigorosos na efetivação das chamadas "remoções": "A política atual é irresponsável." Em questão, uma "concepção de cidade". O que se quer? Entregar a cidade aos negócios ou às pessoas? Dá para combinar os dois? Dá, mas numa "cidade de direitos". Freixo cita exemplos concretos: "Em Londres, por lei, metade das moradias da Vila Olímpica foi destinada à população de baixa renda. A Vila dos Jogos Pan-Americanos na Barra foi toda jogada para o mercado imobiliário."

Na área dos transportes públicos, "enfrentar o poder das empresas de ônibus, reunidas na Federação dos Transportes (FETRANSPOR)." Os consórcios funcionam como um cartel, impondo tarifas escorchantes, recusando-se a aceitar o bilhete único, praticado, há anos, nas grandes capitais do mundo. Em jogo, o "modelo rodoviário". O atual tem custo alto, polui e inferniza a vida das pessoas. Por que não viabilizar o transporte sobre trilhos? As vans assumiriam uma vocação "complementar", organizando-se licitações individuais, para neutralizar o poder das milícias.

Finalmente, em relação à segurança, é falso dizer que se trata de matéria exclusiva do estado. As milícias fundamentam seu poder em atividades econômicas que se efetuam em territórios determinados. Ora, tais atividades e territórios são - ou deveriam ser - regulados pela autoridade municipal. Haveria um largo campo a ser aí explorado, sempre em parceria com os governos estadual e federal, sem nenhuma conciliação com as milícias.

Selecionei cinco questões essenciais. É clara, em todas elas, a vontade de mudança, respeitando-se os valores democráticos. A marca rebelde contra o marasmo, um sistema exaurido que se repete e se rotiniza à custa das grandes maiorias.

Mas os sinais de rebeldia aparecem principalmente na mobilização e no incentivo à auto-organização das gentes. A recuperação da militância gratuita e espontânea, motivada por valores - políticos e éticos. Cada reunião é um comício. Cada comício surpreende pela afluência das pessoas. Renasce o melhor da tradição democrática brasileira, viva e promissora, em especial na primeira metade dos anos 1980, com destaque para a participação de artistas, meio sumidos nos últimos anos dos embates políticos. Pois eles estão de volta, generosos e solidários. Não seria esta uma indicação de tendências profundas? A sintonia fina entre artista e sociedade?

O exercício de cidadania não vai morrer após a campanha eleitoral. O candidato propõe - "eixo central da sua política" - a construção de Conselhos de Políticas Públicas e a reanimação das associações de bairros, destinados, em conjunto com os vereadores, a formular e a controlar a aplicação das políticas e das leis, viabilizando uma "outra concepção de governo", distinta do atual troca-troca de favores por votos, onde quase sempre se encobrem interesses escusos. O Rio tem tradição rebelde.

Em 1968, houve aqui o movimento estudantil mais atuante, e as maiores passeatas contra a ditadura. Na segunda metade dos anos 1970, a luta pela anistia - ampla, geral e irrestrita. Nas primeiras eleições livres para governadores, em 1982, a vitória de Leonel Brizola - "Brizola na cabeça" - representou desafio à ordem vigente. Ao longo da campanha das Diretas-já, o povo nas ruas contribuiu para consolidar o processo de transição democrática. Na sequência, Fernando Gabeira quase foi eleito prefeito da cidade contra ampla coligação de interesses conservadores. Em 1989, nas primeiras eleições diretas para presidente, outros comícios - imensos - por Lula e Brizola. A partir dos anos 1990, porém, no quadro da "administração das coisas", as eleições perderam encanto, cada vez mais dominadas pelo dinheiro e pelo marketeiros.

Não terá chegado a hora de mais uma virada? Retomando tradições críticas que existem no tempo longo, enraizadas na cidade?

É verdade que outra candidatura fala de si mesma como "um rio". Pode ser um rio qualquer. Mas o Rio rebelde, nas eleições de outubro, além de um programa, tem nome e sobrenome: Marcelo Freixo.

Daniel Aarão Reis, O Globo, 18 de Setembro de 2012.

*Daniel Aarão Reis é professor de História Contemporânea da UFF

Há um candidato que usa o slogan “Somos um Rio”. Eu não faço parte desse Rio fictício, o Rio que quero é o Rio rebelde com participação massiva da juventude como tenho visto nos últimos meses.



terça-feira, 11 de setembro de 2012

A vida gritando nos cantos


“Outro dia, uma amiga se queixou ao telefone: ‘Tenho vinte e sete anos e descobri que, até agora, tenho me alimentado de migalhas’. Falei qualquer coisa banal & consoladora, como ‘a vida é assim mesmo, paciência’ — e desliguei. Só não desliguei a cabeça: a frase ficou dias dando voltas dentro dela. Até que, não lembro bem como, de algum lugar de dentro de mim veio a resposta que não cheguei a dar à minha amiga: ‘Mas será que isso que você chama de migalhas não será, afinal, o próprio pão?’”


A vida gritando nos cantos
Caio Fernando Abreu, Editora Nova Fronteira
 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A Queda - As memórias de um pai em 424 passos


Diogo Mainardi nos brinda, com suas memórias em 424 passos, sem pieguices ou autopiedade o caminhar de um pai que acreditou que Tito poderia dar mais de 500 passos e quando houvesse uma queda ele estaria lá para cair junto e ajudá-lo a levantar.
Ver Tito sorrindo em todas as fases dos seus passos é um alento e um momento de reflexão.
Quantas vezes somos nós os paralisados cerebrais?

“Até aquele momento, eu sempre pensara que, se meu filho permanecesse em estado vegetativo, eu esperaria que ele morresse.
Depois do primeiro contato com Tito no corredor do claustro do hospital de Veneza, tudo se transformou. Eu só queria que ele sobrevivesse, porque eu o amaria e o acudiria de qualquer maneira.
Entre a vida e a morte, aferrei-me à vida.”

A Queda - As memórias de um pai em 424 passos
Diogo Mainardi, Editora: Record

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Me toque...


Por favor, me toque

Se sou seu bebê:
Por favor, me toque.
Preciso de seu afago de uma maneira que talvez nunca saiba.
Não se limite a me banhar, trocar minha fralda e me alimentar,
Mas me embale estreitado, beije meu rosto e acaricie meu corpo.
Seu carinho gentil, confortador, transmite segurança e amor.

Se sou sua criança:
Por favor, me toque.
Ainda que eu resista e até o rejeite,
Insista, descubra um jeito de atender minha necessidade.
Seu abraço de boa noite ajuda a adoçar meus sonhos.
Seu carinho de dia me diz o que você sente de verdade.

Se sou seu adolescente:
Por favor, me toque.
Não pense que eu, por estar quase crescido,
Já não precise saber que você ainda se importa.
Necessito de seus braços carinhosos, preciso de uma voz terna.
Quando a vida fica difícil, a criança em mim volta a precisar.

Se sou seu amigo:
Por favor, me toque.
Nada como um abraço afetuoso para eu saber que você se importa.
Um gesto de carinho quando estou deprimido me garante que sou amado,
E me reafirma que não estou só.
Seu gesto de conforto talvez seja o único que eu consiga.

Se sou seu parceiro:
Por favor, me toque.
Talvez você pense que sua paixão basta,
Mas só seus braços detêm meus temores.
Preciso de seu toque terno e confortador,
Para me lembrar de que sou amado apenas porque eu sou eu.

Se sou seu filho adulto:
Por favor, me toque.
Embora eu possa até ter minha própria família para abraçar,
Ainda preciso dos braços de mamãe e papai quando me machuco.
Como pai, a visão é diferente,
Eu os estimo mais.

Se sou seu pai idoso:
Por favor, me toque.
Do jeito que me tocaram quando era bem pequeno.
Segure minha mão, sente-se perto de mim, dê-me força,
E aqueça meu corpo cansado com sua proximidade.
Minha pele, ainda que muito enrugada, adora ser afagada.


Não tenha medo.
Apenas me toque.
Davis,  Phyllis K.  In, O Poder do Toque

E quando você se sentir como uma criança,cuide muito e acaricie bastante a criança que existe em você.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Bondade ou Permuta do Prefeito?


No início de Agosto trocaram de lugar a Academia da Terceira Idade localizada no Largo do Machado.
Estranhei a mudança e questionei um vendedor da área, que me informou que a troca foi feita, pois no local anterior as pessoas ficavam expostas ao sol.
Então instalam aparelhos, furam calçadas, esburacam o local por onde as pessoas transitam sem antes fazerem um planejamento?
Não me convenci da bondade da Prefeitura em relação aos idosos, pois ultimamente tenho visto muitas gravações de programas da Globo no local.
Hoje, socorri uma senhora que se esborrachou no chão devido à grande quantidade de areia deixada após refazerem a calçada onde se localizavam os aparelhos.
Continuo me perguntando se essa mudança foi realmente visando o bem estar dos idosos.
Na 6ª feira, ao passar por lá, acontecia uma gravação de algum quadro do Programa Mais Você. Hoje, outra gravação no mesmo local, para a mesma emissora.
Sei não, para mim essa mudança ocorreu para que o espaço ficasse mais livre para o povo assistir e participar das gravações.
Pelo menos a Prefeitura deveria acionar a empresa que fez a obra para remover a areia espalhada pelo caminho.
Os idosos e o a população em geral agradecem.
Regina Coeli Carvalho - 28/08/2012

 Quantidade de areia no local

 Gravação e carro da emissora

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Dia do Psicólogo


(...)
Nós Humanos somos Seres do Desejo.
Um ser que pensa, indaga, estuda, descobre e cria,
Ama, sente alegria. Desama,  e a tristeza.
Empreende, resolve, prevê e planeja.
Tudo isso porque deseja
incessantemente mais e mais a cada dia

Amando-nos ou não,
transformamo-nos uns aos outros.
E esses quereres nos transformam
enquanto transformamos o mundo.
Porém, o quanto somos imperfeitos!
E, em nossos microuniversos
assolados por demônios escondidos,
desejos errôneos, errantes,
vacilantes ou interditos
são atores em um palco de
sofrimentos e infindáveis conflitos.

A quem interessam esses conflitos?
Ao Psicólogo, certamente.
Aquele que irá se debruçar sobre a mente,
consciência e inconsciente,
ou como queiram chamar a subjetividade.
E que buscará entender comportamentos do grupo
e condicionamentos do indivíduo,
o que este pensa, percebe e sente
o manifesto, o latente,
o desenvolvimento, o sentido
da sua dinâmica subjacente.

Aquele cujo desejo é atenuar a própria narcísea ferida
no espelhar dos desejos do outro para este outro.

Lhe oferecendo agulha e linha,
auxiliando-o a melhor alinhavar sua vida.

Lhe oferecendo a tesoura se preciso, e desfazendo nós.
Lhe mostrando pontos cegos e pontos de integração
entre soma e psique, afeto e razão,
parte anima e a outra parte,
numa prática rara onde ciência encontra arte.

Tesoura, agulha e linha são ferramentas
desse curioso cientista-artesão.
Porém, psicólogo, saiba que não é sua a composição.
O tecido não é você quem tece.
Por vezes, duro como couro queimado
por outras, delicado,
é algo que desconhece,
e só se revela na relação.

Seja, assim, Psicólogo
com a humildade de saber que seu saber é limitado
e nunca imponha ao outro seu próprio tecido remendado.

Seja psicólogo
na eterna busca de novos conhecimentos, abordagens e visões,
mas saiba-o bem que, em certos momentos,
será guiado por insights súbitos, valiosas intuições
e mãos invisíveis...     

Seja psicólogo,
com senso de responsabilidade profissional,
e a compreensão crítica da política e ecologia social.
Presta assistência a indivíduos, organizações e comunidade.
Sana pouco a pouco suas doenças,
promove seu bem-estar e felicidade
de forma íntegra e exemplar,
com ética e dignidade.

Enfim, seja Psicólogo
transformando a si e ao mundo,
sempre fazendo valer o nobre desejo
de ajudar o outro a tecer
um outro criativo, vivo, maduro
de seu tecido infinito...”
(...)
Leonel Tractenberg, trechos da poesia (Trans)formar-se Psicólogo, discurso de formatura da turma de Psicologia da UFRJ de 1997. Jornal Argumento, Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, Junho,1998.

 
Começaria tudo outra vez se tivesse que escolher uma profissão. Foi através da psicologia que cresci, através do contato com pessoas, com suas dores e que através de nossas trocas deixaram aflorar seus sentimentos. Aplicar a ciência sem perder de vista o olhar poético sobre o ser humano e a nossa responsabilidade no crescimento e na ciranda da vida do outro.

Complementando com um pensamento de Jung que adotei para minha vida profissional:

"Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas quando tocar em uma alma humana seja apenas outra alma humana." Carl Gustav Jung