domingo, 31 de janeiro de 2010

O ritual do café


Estampa-se o sol em delicados raios
Sobre o mármore branco e liso da cozinha.


Suavemente me debruço e uma porta abro,
Recolho a chávena fina e o florido prato.


Ergo o meu braço e num voo livre,
No gesto de um armário desvendar,
Recolho o nobre pó de inebriante aroma.


Alongo a mão que a gaveta encontra,
E dela escolho, enfim, a colher mais bela,
Brilhante, pequena, com terno recorte.


Tudo coloco em ordem e harmonia:
O prato tranquilo e a expectante chávena,
Nesta, o torrado grão moído, de castanho intenso.


No açúcar rico, centro o meu cuidado,
A montanha branca transportando, pura,
Em bojuda prata que doce se inclina.


E luzem cristais em cascata linda!


Depois, a água borbulhante, quente,
A mistura inunda, dissolvendo-a
Em espirais de espuma que a colher adorna.


Café! Café! Precioso encanto!


Em dégagé devant te cumprimento,
Os meus braços lanço em acolhimento grato.


Da janela aberta me acerco então.


Tão bela é a vista que o Outono pinta no jardim!
Castanho da terra e verde das plantas unem-se
À água que brilha em bebedouro antigo.


Aspiro, feliz, da manhã tranquila, o seu odor
A quente café e à relva orvalhada.
Olho o céu e sorvo um gole, outro e outro.


E assim me quedo, por instantes longos.
Entre o prazer forte do café e a doçura da manhã
Mais um dia de vida se inicia!

Ilona Bastos



quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sonhos de infância


Reuni os comentários dos amigos sobre seus sonhos na postagem que fiz em outubro: “Meu sonho de infância”. Saiu uma historinha meio sem pé sem cabeça mas foi uma forma de resgatar o sonho de cada um.

Meu carinho procês.


Era uma cidade pequena com poucos habitantes e as tardes resumiam-se nas conversas no comércio local.

Gigi, a quitandeira, proseava com Denise, proprietária da fábrica de doces de leite, famoso produto da região.

O assunto na cidade era um só: a chegada da menina Lis, arqueóloga, que faria grandes escavações a procura de tesouros.

Doraci bailava ao som de Chiquititas enquanto Clara ensaiava para sua apresentação no teatrinho da cidade.

A Profa. Geórgia tentava acalmar Mimi que encontrava-se triste pois seus pais estavam sempre a brigar.

Viviam, a lavadeira, passa com sua trouxa na cabeça e anuncia que Max, o bombeiro, fraturou o braço na tentativa de salvar o gato da Zootécica, Anna Maria que sem saber de nada, encontrava-se no consultório da dentista Thaiz.

A jornaleira Andréa encarrega-se de levar a notícia para a proprietária do gato enquanto a enfermeira Vânia busca desesperadamente a médica Maria Thereza.

Professora Mônica, que estava de passagem pela cidade, percebendo a confusão que se instalara no pequeno vilarejo oferece sua ajuda e solicita a presença do piloto Sergio Affonso que chega com a aeromoça Ivone, resgata o ferido e a cidadezinha volta ao seu normal.


Eis os comentários.....


Andréa

Tive vários mas um deles foi ser jornaleira pois adorava revistinhas, figurinhas e bonequinhas de papel!


Anna Maria

Meus sonhos de criança: primeiro ser cientista e ajudar a muitos com as minhas descobertas. Depois ser zootecnista pela minha paixão incondicional aos animais.
Tornei-me professora... Ajudo que outros descubram o amor aos estudos e tenho em meus alunos, os "animais" humanos mais sublimes!


Clara

Meu sonho declarado de criança era ser CHIQUITITA.

Ah, que saudade. E graças a ele estou agora, assim, no caminho, com meu coração no teatro.

Agradeço muito por sonhar tanto.


Denise

O meu sonho era ser dona da fábrica de doces de leite que havia em frente a minha casa. rsrsr


Doraci

O meu sonho de menina era ser uma bailarina clássica. Na época nem usava o termo "clássica"... nem havia TV... e na minha cidadezinha não se ouvia falar em teatro... nada! O circo, sim, era a inspiração.

Com o rádio ligado... eu vivia nas pontas dos pés, jogava as pernas para o alto...

rodopiava...
Quanta felicidade!

Aí minha mãe chegava do quintal e dizia: "Ainda não acabou de limpar a casa?"

Mal sabia ela que eu ficara bailando... bailando...bailando...!


Geórgia

Eu queria ser professora e fui durante 15 anos, agora sou professora só dos filhos e do marido que fala muito bem o português.


Ivone

O meu sonho era ser aeromoça.


Lisete

Meu sonho era ser arqueóloga, escavar no Egito, em Roma, descobrir civilizações esquecidas...Ganhei uma coleção de livros sobre arqueologia. Como idéia, até hoje me apraz. A idade impede.

Outro sonho era ter uma escola e ser professora. ....com a paciência que (não) tenho, ia se chamar "Escolinha do tio Herodes"....


Maria Thereza

Se medica biocibernética....

É a parte da medicina que trata das partes biológicas trabalhando com as cibernéticas em conjunto. Favorecendo pessoas amputadas e outras mais. Moral da historia? Sabe quanto custa ser uma M. bioci...?

Pois é, a realidade foi bem outra e aí meu interesse por artes começou a aparecer....hoje sou tec. planejamento turístico( tudo a ver, né?) e designer gráfico e...web designer. Tudo a ver, não é!? Mas o principal? Sou feliz pra caramba com o que faço!!!! Amo meu trabalho.


Max

Meu grande sonho era ser bombeiro. Acredita que a minha avó fez um uniforme todo vermelho para eu brincar.

Uma vez cai de uma árvore fraturando o braço pois estava brincando de salvar um gato.


Mimi

Sonhava ver meus pais não brigando(tantooooooo) nunca mais...

Eita sonhinho que não deu prá realizar até hoje... Os dois velhinhos (85 e 84 anos) continuam brigando feito gato e cachorro!

E eu... Cadê que me acostumo....rs,rs,rs


Mônica

Meu grande sonho era ser Professora....e consegui realizá-lo com tanto sacrifício....Ah!!! Como é bom poder sonhar....


Sergio Affonso

Meu sonho de infância era pilotar avião da FAB... Na minha inocência eu achava que devia ser a coisa mais difícil do mundo... Consegui pilotar avião da FAB... Vi que era fácil e deixou de ser sonho... Estou até hoje à procura de novo sonho...


Thaiz

Nossa... quando eu era menos pequena..rsrs... sempre pensei eu ser dentista.

Achava engraçado, sempre ouvir que muitas pessoas tinham medo dos dentistas.


Vânia

Então meu sonho de criança era ser enfermeira,,hoje nem pensar tenho horror a hospital,,


Vivian

Estou aqui tendo crise de risos. Quitanda? Rural?

Pois eu em pequena vivia no interior de Minas e via aquelas senhoras lavadeiras passarem com trouxas na cabeça e queria crescer para fazer o mesmo.

Acho que é por isso que hoje passo longe do tanque.

Seria sonho ou pesadelo?







terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Memória afetiva....

Aos 9 anos já era independente. Comprava seus presentes sem a ajuda de adultos.

Presenteou-me com este caderninho no Dia das Mães.


Com direito a dedicatória:


Mãe,
hoje e sempre, onde quer que seja; vou estar com você lhe amando!
Esse livro vai te ajudar a criar sonhos e realidades a respeito da vida!
Um beijão de sua filha
Anna Clara
09-05-99


Obrigada filha, você foi o presente mais significativo que a vida me deu.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Tremendo nos Nervos




O Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro convida para o desfile do Bloco “Tremendo nos Nervos”, a realizar-se no dia 03 de fevereiro de 2010, no horário de 14 às 18 horas, na Praça da Harmonia, Bairro da Saúde.


Esclarecemos que o CPRJ atende a população residente na região Ap.1 e Ap.3.1 na área de saúde mental.


A Unidade tem como objetivo coordenar a articulação entre a atenção à crise e assistência necessária ao processo de ressocialização da população atendida, de forma ágil, com atendimento humanizado, resolutivo e integrado aos demais serviços internos no CPRJ e aos da rede de atenção à saúde mental.


Buscamos com inovações deste serviço, romper barreiras, acolhendo estas pessoas de forma humanizada, compreendendo fundamentalmente o sentido do “cuidado”.


Inserimos novas equipes constituídas por Musicoterapeutas, Psicólogos, Arte-terapeutas, Terapeutas Ocupacionais, Recreadores, Dançarina, etc. que através de atividades nas oficinas modificam o ambiente e o sentido dado aquele momento, contribuindo mais uma vez na humanização de atenção à crise.


É no Hospital-Dia Harmonia que se desenvolve o projeto de atendimento a população com transtorno mental e que se encontra em situação de rua.


O uso de arte tem sido um dos traços fundamentais desse processo que vem se desenvolvendo nas oficinas de pintura, de artesanato, carnaval, de música, de teatro, de poesia, de culinária, de informática, restauração de móveis e estas sendo utilizadas de forma a permitir a expressão de todos os envolvidos no projeto do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro.


Dentro deste espírito criamos um trabalho onde o samba é o protagonista, organizamos o Bloco Tremendo dos Nervos que é formado por usuários, técnicos e familiares do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro.


A experiência surgiu no ano de 2005, como uma forma de expressão que proporcionasse um encontro entre os espaços da Instituição e o da comunidade ao redor, entre diversas experiências sócio-culturais, acolhendo as diferentes possibilidades de sentirem-se criativos e protagonistas de suas criações.


Trabalho fundamental na reabilitação psicossocial dos pacientes portadores de transtornos psiquiátricos.

Telma Rangel – Gerente de RH/ CPRJ –2332.5683

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Boa Esperança....


Foto minha


Ele nasceu numa cidade de nome bonito: Espera Feliz. Mas a vida inteira se perguntou: "como pode alguma espera ser feliz?". Não tinha dúvida de que essa história de esperar era uma coisa muito chata. E ele se sentia aflito. Até que um dia se cansou. Tomou uma atitude. E aí, sim, ele foi feliz - agora longe da espera. Mudou de cidade. Foi morar em Boa Esperança.

Pedro Antônio de Oliveira

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Helio Pellegrino

A Cólera- Esperança


Atiro-a contra as quinas erguidas desta madrugada, contra estes edifícios enormes, parados contra o cinza do céu sujo como o sabão que lava o piso dos botequins ao fim da noite.


Atiro-a contra o cansaço do mundo, contra o meu próprio e inenarrável cansaço, atiro-a em nome da utopia que é minha, a tua, a nossa utopia, atiro-a com raiva, sem estratégia, sem prudência, como uma hemorragia que se esvai e tinge a calçada com o esguicho de seu incêndio rubro.


Atiro-a para nada, para o nenhum resultado do grito que precede o baque do corpo atropelado na rua, atiro-a no ar do mar, na curva corrosiva do azul, à porta dos orfanatos e prostíbulos, atiro-a ao chão, como bile sanguinolenta que escorre, como quem cospe um dente arrancado por um murro na boca.


Mas atiro-a, flecha turva, esperança e nojo, vida e cólera, atiro-a com este punho fechado, com esta sede e esta fome, atiro-a com a funda mais funda do meu sonho mais profundo, atiro-a contra argentários e fundiários, opressores e ditadores, atiro-a em meu nome e em nome dos que ainda não têm nome, e em nome dos que em dores e cólicas acordam para o seu nome, e ao rés do chão, em pleno pó, o desentranham.



Hélio Pellegrino, abril, 1964

Humberto Werneck revela: "... ele dizia que escrevê-lo foi sua primeira reação diante do golpe de 64".

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Para Clarinha...


Os filhos se parecem com água andante, o irrecuperável curso do tempo. Um rio tem data de nascimento? Em que dia exato nos nascem os filhos?

Mia Couto -, In O último vôo do flamingo


Filha, você nasceu para o mundo há exatos 20 anos mas em mim já existia por toda minha vida....


Feliz aniversário!
Te amo!!!!!!!!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Zilda Arns

Foto daqui

“A gente não é só mãe quando gera no ventre, mas sempre que geramos vida naqueles e em tudo o que nos pede SOCORRO em nome da vida! “

Autoria desconhecida

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Eu também procuro...

“Eu procuro o ser humano que saiba amar, sem que, com isso, puna, trancafie ou sugue o outro. Eu procuro esse ser do futuro, que torne realidade o amor, independente de vantagens e desvantagens sociais, para que ele seja um fim em sim mesmo”. C.G.Jung

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Esquizofrenia no olhar de Nise da Silveira

“Sempre me pareceu inteiramente sem importância fazer um diagnóstico e pôr um rótulo numa pessoa.

Esquizofrenia...esquizofenia...esquizofrenia. Isso não diz nada. O fundamental é o encontro com aquela pessoa. A certa altura, me pareceu que a esquizofrenia não é uma doença propriamente dita, com as características clássicas das doenças. A esquizofenia resulta de cisões internas com o mundo exterior, causadas por situações externas, demasiado fortes para certos indivíduos. São eles, na maioria, frágeis para suportar o que nós outros suportamos – talvez até por serem melhores do que nós”.

Nise da Silveira – Texto do artigo publicado na revista Manchete, Rio de Janeiro, 10 jun. 1967.


Visite Casa das Palmeiras

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Livros "perdidos"


Foto minha


Li há algum tempo em uma comunidade do Orkut sobre a experiência de “perder” livros.

Em 16 de dezembro postei uma reportagem da Revista Nova Escola sobre a distribuição de livros em sinais de trânsito.

Preparei 4 livros para serem perdidos com um bilhetinho colado solicitando à pessoa que achar que depois de lê-lo perca-o também. Deixei também meu e-mail para que, se possível, fosse relatada a experiência de achar o livro, lê-lo e perde-lo também.

Hoje perdi o 1º livro: Por tanto amar de Mário Oliveira.

Deixe-o no ônibus da linha 497 no trajeto Laranjeiras/ Centro da Cidade.

Vamos ver no que vai dar.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sintaxe à vontade


Foto minha


Sintaxe à vontade

Sem horas e sem dores

Respeitável público pagão

a partir de sempre

toda cura pertence a nós

toda resposta e dúvida

todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser

todo verbo é livre para ser direto ou indireto

nenhum predicado será prejudicado

nem tampouco a vírgula, nem a crase

nem a frase e

ponto final!

afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas,

entre vírgulas

e estar entre vírgulas é aposto

e eu aposto o oposto que vou cativar a todos

sendo apenas um sujeito simples

um sujeito e sua oração

sua pressa e sua prece

que a regência da paz sirva a todos nós...

cegos ou não

que enxerguemos o fato

de termos acessórios para nossa oração

separados ou adjuntos, nominais ou não

façamos parte do contexto da crônica

e de todas as capas de edição especial

sejamos também o anúncio da contra-capa

mas ser a capa e ser contra-capa

é a beleza da contradição

é negar a si mesmo

e negar a si mesmo

é muitas vezes, encontrar-se com Deus

com o teu Deus

Sem horas e sem dores

Que nesse encontro que acontece agora

cada um possa se encontrar no outro

até porque...
tem horas que a gente se pergunta...

por que é que não se junta tudo numa coisa só?

Fernando Anitelli


domingo, 3 de janeiro de 2010

A dor de dentro.....

- Ai, Glória, por favor, você me dá uma aspirina?

- Mas por que você me pede tanta aspirina, Maca? Não é pelo dinheiro não, mas pode fazer mal!

- Para eu não me doer!

- Hã??

- Para eu não me doer. É dentro."


Clarice Lispector, In A Hora da Estrela

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

A torre mágica

E hoje, Dia Mundial da Paz, ao fazer uma pesquisa encontrei a “A Torre Mágica” do Pedro Antônio de Oliveira.

Presente de início de ano. Ao término da leitura saí com o coração refrigerado e aquecido de amor.

Parabéns Pedro!