sábado, 31 de maio de 2008

Campos livres para as margaridas...
...

Que o verde sobressaia no azul celeste
O dourado do fogo traga mais calor
Sobreponha ao frio das almas egocêntricas.
Estas não mais solidifiquem as forças do amor...
...
Que a vaidade de mãos gélidas
e unhas coloridas encontre saída,
deixe os campos livres para as margaridas.
Porque não queremos mais hipocrisia
queremos a melodia das cachoeiras transparentes
Aquelas que nos convidam ao refazimento
...
A hora é chegada, o ciclo fecha-se
Precisamos ajuntar os sonhos d'ouros
Encantar o mundo com as almas de luzes cintilantes
Sim, aquelas onde a pureza das intenções revigoram
Revigorarão a aurora do dia seguinte...

...

(Maria Rita Pereira)

terça-feira, 27 de maio de 2008


“Estou semeando as sementes da minha mais alta esperança.
Não busco discípulos para comunicar-lhes saberes.
Os saberes estão soltos por aí, para quem quiser.
Busco discípulos para neles plantar minhas esperanças."
Rubem Alves

Para os meus alunos

que a cada encontro

foram me fazendo descobrir

que viver é um processo criativo

e conviver é participar da criação.

Aprendi com todos vocês que justamente nas

situações menos programadas e mais imprevisíveis

para aprender alguma coisa me encontrei com

os melhores ensinamentos.

Meu carinho.

Regina Cœli Carvalho

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Aos cuidadores de saúde mental

“Quando a gente se envolve com esse tipo de projeto , não basta estar ali com nossos esforços, com nossos talentos técnicos, é preciso agregar algo mais, é preciso uma forte vontade de que a vida daqueles sujeitos que até hoje têm sido uma seqüência de tragédias e transtornos para estes e suas famílias, possa efetivamente se transformar em uma nova vida”.

Marcus Vinicius de Oliveira, psicólogo, da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial.

“O que melhora o atendimento é o contato afetivo de uma pessoa com outra.O que cura é a alegria, o que cura é a falta de preconceitos.” Nise da Silveira

Harmonia Enlouquece

O Projeto “Convivendo com a Música”, do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro, teve início em março de 2000. Nasceu do desejo de oferecer um espaço no qual os participantes pudessem vivenciar diversas atividades sonoro - musicais dando lugar à expressão, à criatividade e à comunicação. Trata-se de uma atividade aberta a todos da instituição, sejam usuários do próprio serviço ou profissionais, pessoas que tocadas pela música encontram-se uma vez por semana para ouvir, cantar, tocar, compor e, sobretudo, estabelecer um contato rico em sentimentos e emoções através da matéria sonora.

O grupo Harmonia Enlouquece surge como um desdobramento de tais encontros, dando corpo e voz aos nossos “delírios musicais” e tornando públicas as suas criações. Através das composições falamos da história de vida desta clientela e assim pretendemos vê-la compartilhada e valorizada.

O CD reflete, portanto, o percurso do grupo ao longo deste período.

www.harmoniaenlouquece.com

Já à venda o novo CD do Harmonia Enlouquece através do telefone 2516.5504 (CPRJ)


*A foto é do 1º CD.

domingo, 25 de maio de 2008

João Gabriel

Bem vindo, João Gabriel, a este humano mundo nosso que agora já é teu.

Perdoa, estamos sem graça, não temos para te dar um mundo melhor.

Não fomos capazes de preparar um chão fraterno banhado pela glória de viver.

Não foi por falta de empenho.

São tantos, pareciam poucos, os que ainda não desanimaram e que trabalham cantando para que o mundo mereça a chegada de uma criança.

Chegas num tempo marcado pelo medo e pela solidão, os homens mal soletrando a lição de ser irmão.

Diariamente cresce a sombra da violência e o orvalho que cai não lava as cinzas da indiferença.

Bem vindo sejas, João Gabriel, porque estamos precisados do poder de tua infância, do teu dom de acreditar.

Que tua fonte estrelada derrame luz e canção,

Acorde nossa esperança, nossa confiança ferida com medo de dar a mão, nossa ternura escondida no fundo do coração...

Com afeto da tia “ávo”,

Regina Coeli J. Carvalho

sábado, 24 de maio de 2008

No mês passado vivenciei uma emoção indescritível. Consegui localizar um ex-professor que teve uma importância muito grande na minha vida.

Conversamos, por telefone, uns quarenta minutos e tive a oportunidade de expressar minha gratidão pelo que ele representou para mim.

Enviei pelo correio um texto que escrevi em 1999, quando participei de um concurso sobre o mestre inesquecível.

Recebi quatro livros de sua autoria que ainda não tive oportunidade de ler.

Essa sensação do “dever cumprido”, de dizer para o outro da sua importância, de dar um feedback, embora tantos anos depois, causou-me um bem enorme.

Divido com vocês minha gratidão a esse grande mestre.

MEU MESTRE INESQUECÍVEL

Fui uma criança muito tímida. Ainda lembro-me de que nas festas familiares escondia-me embaixo da mesa com vergonha das pessoas.


Quando transformei-me em adolescente sentia vontade de falar, de participar das aulas, mas minha auto-estima era baixa e eu sempre escondia-me através da minha timidez. Talvez, por isso, tenha sido uma aluna mediana até o 3º ano ginasial.


1969, 4º ano ginasial, foi quando um anjo surgiu em minha vida. Professor de Moral e Cívica no ginásio e de Literatura no colegial. Com sua fala nordestina foi conquistando-me e acredito que ali pude começar a “DES-COBRIR” meu potencial. Este anjo incentivou-me a participar do Centro Cívico, escalando-me para ser a oradora nas solenidades escolares. Escusado dizer que eu tremia ao falar em público, mas ele com seus olhares dizia: -“Vá em frente, solte as amarras, você é capaz!”


1970, este anjo faz-se presente na Literatura, conduz-me a viajar através dos romances de Camilo Castelo Branco. Sob sua influência o desconhecido tornava-se conhecível.


Nessa época, já participava das aulas, dos debates, expunha meus pontos de vista e as apreensões desapareciam.


Este anjo trouxe-me revelações, deixou a literatura do professor que escreve na alma.


Fui estudar Psicologia sem nunca esquecer os olhares significativos daquele professor.


Hoje, 30 anos depois, quando estou lecionando, conduzindo algum treinamento ou, às vezes, ministrando uma palestra, recordo sempre daquele Mestre. Muitas vezes ridicularizado pela turma por seu sotaque nordestino e seu jeito de “milico”, mas que, com a sua ternura e com o seu poder de enxergar além das aparências, deixou em mim uma paixão pelo ensinar e pelo conduzir o homem em busca do seu ser.


Meu Mestre Inesquecível, Prof. Antônio Malveira, do Colégio Estadual Dilermando Cruz, onde quer que o senhor esteja receba em forma de oração: Obrigada, Mestre !


Regina Cœli de Jesus de Carvalho, Março/1999.

Para os amigos tribalistas:

Esses são os meus porquinhos: Chicão e Buarquinha. Os engordei até ficarem obesos. Vão custear minha passagem para o encontro dos tribalistas em Balneário Camboriú, SC.

Estou sentindo como Saint-Exupéry: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.

Já estou feliz com a possibilidade de nos encontrarmos novamente e de conhecer os novos amigos.

Carinho procês.


Brinquedo Sério

"Eu só brinco

Quando é muito sério é muito sério

Ser o teu brinquedo

Não tem mistério

Não tem segredo

Quando a gente brinca

Quando a coisa é séria

Quando o teu limite

É tão perfeito

Quando ser brinquedo

Pode ser tão sério

Pode haver um dia

Em que a poesia

Mude de endereço

Deixe apenas tédio

Mas enquanto isso

Vem brincar comigo

Vamos até onde

Possa ser só riso

Possa ir tão longe

Possa ser tão lindo

Pode ser brinquedo

Pode ser tão sério"

Alice Ruiz

“Quando o Fluminense precisa de número, acontece o suave milagre: Os torcedores vivos, doentes e mortos aparecem. Os vivos saem de suas casas, os doentes de suas camas e os mortos de suas tumbas.”

Nelson Rodrigues

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Preciso, para

Preciso que um barco atravesse o mar
lá longe
para sair dessa cadeira
para esquecer esse computador
e ter olhos de sal
boca de peixe
e o vento frio batendo nas escamas.

Preciso que uma proa atravesse a carne
cá dentro
para andar sobre as águas
deitar nas ilhas e
olhar de longe esse prédio
essa sala
essa mulher sentada diante do computador
que bebe a branca luz eletrônica
e pensa no mar.

Marina Colasanti ,Gargantas Abertas, Editora Rocco, 1998


quarta-feira, 21 de maio de 2008

Carta ao Tempo


"Ao tempo perdido

Onde você foi parar? Como você some assim sem avisar? Por onde você escapou que não vi? Contava com a sua presença para fazer algumas coisas, que adoro, mas para as quais não me sobra nem um minuto.

Dizem que o tempo perdido não volta jamais, no entanto custo a acreditar que você seria capaz de me largar de uma maneira depois de tudo que vivemos. Será verdade que o tempo é cruel? Terão sido em vão os lindos momentos que desperdiçamos juntos? As horas e horas pensando besteiras, com minhas intermináveis elucubrações?

É, quando se é jovem, o tempo que se perde não faz muita falta. Você passava e eu nem ligava. Agora, corro atrás de cada instante que, um dia, joguei fora sem dar a devida atenção.

Querido tempo, queria muito que você voltasse. Poderíamos ir a um cinema, jantar fora, passear à toa pelas calçadas. Com o tempo ao seu lado, a vida definitivamente fica mais fácil.

Sei que você não pára, que também está sempre na correria, como eu, contudo não perco a esperança de ainda ter você inteiro, só pra mim. Vejo, no espelho, as marcas que você me deixou, e muitas outras delas quero ter antes de a morte chegar.

O que posso prometer para que você retorne? Que eu vou aproveitar você melhor? Que vou dar mais valor às suas sábias lições? Que não te perderei mais por bobagens?

Ajoelho-me diante de você, inestimável tempo, e juro: nunca mais vou vacilar contigo, pois sei que todos te querem e te desejam. As mulheres mais lindas e os homens mais ricos perseguem você por todos os lugares, oferecendo de tudo para ter mais um pouco de sua companhia.

Tudo gira em torno de você, tempo, eu sei. Poetas te cantam, gênios te estudam, líderes te seguem. E eu continuaria dias e dias tecendo as mais belas considerações a teu respeito, mas temo que estaria perdendo ainda mais de você fazendo isso.

Devo, entretanto, avisar que não pretendo te esquecer nem deixar você em paz. Pode correr, pode fugir, que vou em busca de você, onde estiver. Cancelarei compromissos, emendarei feriados, mas tenho certeza de que te encontrarei de novo. Nem que seja por um só segundo.

Quem sabe, então, quando estivermos frente a frente, verei que você não se foi em vão, que foi porque tinha mesmo que ir, passando em silêncio como o tempo deve passar.

E que, na sua falta, não o terei perdido, porém eternizado.

Saudades,"

Fernanda Young, Revista Claudia

terça-feira, 20 de maio de 2008

Doação de livros


A Cantão está com um projeto "Eu amo ler" aceitando doações de livros. Você pode doar ou trocar por algum que seja do seu interesse.
No sábado levei alguns livros para doação e encontrei um livro que procurava há bastante tempo. Terminei de ler hoje e recomendo.





Presente do mar

Anne Morrow Lindbergh

Este pequeno livro, grande em sua simplicidade e sabedoria, traz reflexões que ocorreram à autora em seu contato com o mar, com uma praia, com uma ilha. Anne Morrow Lindbergh, mulher do grande aviador americano Charles Lindbergh, é dona de uma prosa poética incomparável. Neste livro, escrito em 1955, Anne explora temas profundamente humanos — solidão, amor, casamento, maturidade, envelhecimento — e os compara às conchas do mar. Num novo capítulo escrito vinte anos depois, ela reflete sobre um mundo que, nessas duas décadas, mudou inteiramente em alguns aspectos, mas permaneceu inalterado em outros — pelo menos na necessidade profunda de auto-realização da mulher e no papel do homem nesse processo.







Tratado da Tolerância

Pesquisando um material em meu arquivo, reli esse texto que recebi há alguns anos.

Num momento de tanta intransigência religiosa, de vários donos da verdade que se julgam mensageiros de Deus, é necessário nossa reflexão lembrando sempre que as palavras movem e os exemplos arrastam.

A pregação coerente é aquela em que nossas ações caminham em comum acordo com nossas crenças.

Voltaire defendia o direito de todo homem expressar livremente opiniões e crenças. "Prece pela tolerância" foi escrita há quase 250 anos, mas podemos perceber que ela não perdeu a atualidade.



Prece pela Tolerância

"Não é mais aos homens que me dirijo. É à você, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos: Que os erros agarrados à nossa natureza não sejam motivo de nossas calamidades.

Você não nos deu coração para nos odiarmos nem mãos para nos enforcarmos.
Faça com que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida penosa e passageira.

Que as pequenas diferenças entre as vestimentas que cobrem nossos corpos, entre nossos costumes ridículos, entre nossas leis imperfeitas e nossas opiniões insensatas não sejam sinais de ódio e perseguição.

Que aqueles que acedem velas em pleno dia para te celebrar, suportem os que se contentam com a luz do sol.

Que os que cobrem suas roupas com um manto branco para dizer que é preciso te amar, não detestem os que dizem a mesma coisa sob um manto negro.
Que aqueles que dominam uma pequena parte desse mundo, e que possuem algum dinheiro, desfrutem sem orgulho do que chamam poder e riqueza e que os outros não os vejam com inveja, mesmo porque você sabe que não há nessas vaidades nem o que invejar nem do que se orgulhar.

Que eles tenham horror à tirania exercida sobre as almas, como também execrem os que exploram a força do trabalho. Se os flagelos da guerra são inevitáveis, não nos violentemos em nome da paz.

Que possam todos os homens se lembrar que eles são irmãos!"

Voltaire

sexta-feira, 16 de maio de 2008


“Se quero o

outro comigo,

Fraco,

cansado ou louco...

...Tenho que deixar

sempre

abertas as

portas do

coração.”

[Campanha antimanicomial do Conselho Federal de Psicologia/2003]

“É preciso muito viver, muito desilusionar-se, muito gostar, muito sentir, muito experimentar, muito perder, muito entediar, muito renunciar, para encontrar o próprio amor. Falo do amor guardado não se sabe em que dobra da gente.”

Artur da Távola, trecho da crônica “Sobre amor e alegria”.


Quero a sua mão no meu cabelo
Que é pra desembaraçar meu pensamento...
Trecho de Labirinto, Guilherme Arantes


Estranha forma de vida
 Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.
 
Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.
 
Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.
 
Eu não te acompanho mais:
pára, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.
 Amália Rodrigues

quinta-feira, 15 de maio de 2008

E por mais diferentes

E ferrenhos que sejam

Os sonhos...

Não dogmatize.

Aceite sempre

A possibilidade de alguém

Sonhar diferente de você.

Glenda Maier


terça-feira, 13 de maio de 2008

Libelo

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar – e um barco com o nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar?
E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos, uma pro caniço, outra pro queixo, que é pra ele poder se perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra puxar tristeza, e um pouco de pensamento pra pensar até se perder no infinito...

– Mas o amigo foi ludibriado, e é preciso por ele lutar!

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra – um pedaço bem verde de terra – e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e um modesto pomar; e um jardim – que um jardim é importante – carregado de flor de cheirar?
E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos pra mexer na terra e arranhar uns acordes no violão quando a noite se faz de luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, que casa sem mistério não vale morar...

– Mas a terra foi escravizada, e é preciso por ela lutar!

De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um amigo bem seco, bem simples, desses que nem precisa falar – basta olhar – um desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra briga, um amigo de casa e de bar?
E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e pra bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida à vontade ao amigo?

– Mas o amigo foi ludibriado, e é preciso por ele lutar!

De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma mulher com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular? E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de um carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o desatino o carrega em sua onda sem rumo?
Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher – as únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo amigo...

Vinícius de Morais



Bem no Fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.


Paulo Leminsky


Mãe

Mãe , forcas sem fronteiras,
Na escola da vida sempre serás.
A tua face bela e radiante,
Muita ventura, sempre exibiras.
Mesmo que a tristeza chegue um dia,
Ri confiante as horas hostis,
Serás invencível ,OH! mãe querida,
Ama, confia, serás feliz.

Mãe, ei-la oculta nas palavras.
Silenciosa remissão.
Sou fraca em conhecer meus pecados,
Que cerram meus olhos e o meu coração.
Mas os meus anseios se derretem,
Ao fogo do teu imenso amor,
No alvorecer de cada dia,
Busco em teus braços, profundo ardor.

Mãe, tudo esquece e perdoa,
Mãe de engenheiro , ou de ladrão.
Em ti encerra o pressagio
Do bem e do mal,
Da luz da razão.
Conheces novas injustiças,
Protege teu filho e espera o melhor,
Querendo fazer deste pequeno fruto,
Um homem que use sua própria expressão.
Pura, maravilhosa,
Eu te consagro assim.
Amiga e carinhosa,
És um refugio pra mim.

Ana Campello

Ana, amiga querida, psicóloga/escritora/poeta, morando atualmente na Califórnia e deixando a gente cheia de saudade. Carinho procê!

domingo, 11 de maio de 2008


Mãe que atrasa. Mãe que apressa.

Mãe que se interessa. Mãe que tenta.

Mãe que sustenta. Mãe que alimenta.

Mãe que segura. Mãe que libera.

Mãe que se desespera. Mãe que ri.

Mãe que chora. Mãe que namora.

Mãe que cuida. Mãe que trabalha.

Mãe que se atrapalha. Mãe que desliga.

Mãe que briga. Mãe que é amiga.

Mãe que se preocupa. Mãe que educa.

Mãe que se culpa. Mãe que nem é mãe.

Mãe que também é pai.

Mãe que sai. Mãe que dá afeto.

Mãe que tem defeito. Mãe que dá um jeito.

Mãe que é minha. Mãe que é sua.

Mãe que é tudo.

[Vitrine das Lojas Renner no Dia das Mães]

Meu carinhoso abraço pelo “dia das mães” sem esquecer que mãe e cotidiano se confundem no fazer, no amar e no cuidar.

sábado, 10 de maio de 2008




O rio da minha aldeia


O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.


O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está.
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.

E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.


Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.


O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos


Artur da Távola



"As pessoas não morrem, ficam encantadas.", Guimarães Rosa
Artur não morreu, está encantado em cada um de nós com sua cultura, ética e grande sensibilidade na percepção do ser humano.
Meu carinho, admiração e respeito.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Pequenas Epifanias - Caio Fernando Abreu

E o tempo tomou forma

E o tempo tomou forma. Assim me soube
Envolta em grande mar até a cintura
E nada a não ser água e seu rumor
Aos ouvidos chegava. E soube ainda
Que um só gesto e sopro acrescentava
Essa vastíssima matéria. E atenta
Em consideração a mim, cobri-me de recuos.
Eu, que de docilidade me fizera.

Antes avara desse tempo que resta.
Se em muitos me perdi, uma que sou
É argamassa e pedra. Guardo-te a ti.
Em consideração a mim. Redescoberta.

Hilda Hilst

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

Manuel Bandeira


quarta-feira, 7 de maio de 2008


Sobre as estrelas

Deitada na grama, o céu empoeirado de estrelas.

Passei o dedo e - curioso - algumas vieram grudadas na ponta.

Olhei para cima e assoprei.

Foi tanta estrela caindo que agora eu mal consigo enxergar

de tanta esperança...

Rita Apoena

A praga do convencimento

Para um lado ter razão, o outro tem que necessariamente estar errado...

(...)Conta-se que um rabino foi certa vez consultado sobre um litígio. Uma das partes envolvidas apresentou seu caso e o rabino aquiesceu: "você tem razão". A outra parte também apresentou sua argumentação e o rabino reconheceu: "você também tem razão". Atônito, o assistente que o acompanhava, questionou: "isto é um litígio, como pode ser que este tenha razão e aquele também ?". O rabino concordou: "você também tem razão".

Exige sabedoria resgatar o rabino da patética condição de alguém que concorda com qualquer argumentação, e compreender o seu ensinamento acerca de uma "razão" que não é indivisível ou única. Para nossa dificuldade, a realidade é sempre composta de vários certos. A democratização do "certo" é talvez o mais importante ato de cidadania e espiritualidade de nossos tempos.

Mais importante do que a memória e o julgamento do passado, talvez seja a capacidade de identificar em nosso tempo as atitudes que ainda hoje representam as forças do convencimento. Elas estão por todas as partes, travestidas de intolerância, proliferando em todas as religiões, com as mais diversas formas de fundamentalismos, fazendo-se o uso da linguagem do "convencimento" ou do "auto-convencimento".

Por mais de uma década, as tradições afro-brasileiras enfrentaram uma guerra religiosa declarada, orquestrada por algumas denominações evangélicas. O resultado, tal qual um Brasil de índios catequizados, foi o abandono de origens e tradições, por conta de outras supostamente "mais civilizadas", mais próximas da "verdade absoluta". Somos contemporâneos de organizações internacionais missionárias, financiadas com a "missão" de evangelizar os judeus. No exterior e no Brasil, crescem cultos dissimulados de "judaicos", com o intuito de trazer judeus, em particular os desgarrados, para conhecer a "verdade", em pleno século XXI.

Talvez mais do que entre judeus, cristãos, muçulmanos ou outras tradições, o mundo no século XXI se divida entre os que "precisam convencer" e os que "não precisam convencer". São estas as duas religiões que dividem o Ocidente e o Meio Oriente. Os que "precisam convencer" são aqueles que acreditam que a vida é uma caminhada que deve chegar a algum lugar, onde suas vivências e valores serão comparados às vivências e aos valores de outros. Os que "não precisam convencer" não percebem a vida como um mega- "vestibular". Não há primeiros colocados, ou aprovados e reprovados por parâmetros externos e excludentes. Não há salvos, nem perdidos. Mas sim a possibilidade de não sofrer de desespero para os que vivam suas vidas com reverência, integridade e intensidade.

Há neste mundo as pessoas que "vivem e deixam viver", e as que precisam afirmar suas certezas, provando e apontando o "outro" como errado. Um dia iremos concordar que só existe um parâmetro externo para definir o "certo" e o "errado". Certo é qualquer coisa que não queira convencer ou impor a vontade de um sobre o outro. Errado é a postura do convencimento.

Tanto o convencido quanto o que convence são perdedores. O julgamento da vida se baseia em duas listas de acusação: as ocasiões em que fomos convencidos e aquelas em que convencemos. Nossa identidade e nosso senso de presença são experimentados quando não estamos nem na condição de convencidos ou na de convencer. A própria alegria depende do quanto somos convencidos, e do quanto convencemos. Quanto mais convencemos ou somos convencidos, mais tristes e insatisfeitos nos tornamos, maior nosso senso de inadequação, maior nossa insegurança, e maior o nosso medo.

O convencimento nos rouba a vitalidade fundamental de nossa própria raiz, e nos faz dependentes do outro para definir a nós mesmos. O convencimento é uma inveja dissimulada. Hospedeiro do mal, ele se instala em todas as áreas estagnadas e alienadas de nossa vida, e lá deposita suas larvas. Podemos erradicar o "convencimento" do mundo com uma ação "sanitária", cuidadosa e organizada. Podemos nos educar a ponto de termos "tolerância zero" com a intolerância. E as tradições religiosas têm um importante papel a desempenhar neste sentido, durante o século XXI. O reconhecimento dos erros do passado é um importante passo e, sem dúvida, demonstra maturidade. Mas, ao mesmo tempo, aumenta a responsabilidade. Isto porque a História julgará a todos não pela consciência do erro, mas pela capacidade de evitar repeti-lo.

Nilton Bonder

terça-feira, 6 de maio de 2008

Das Inutilidades

Inúteis são pesadelos,
comidas sem tempero,
brigas no trânsito,
adornos no cabelo.

Inúteis são lentes coloridas,
olhos que não têm vida.

Inúteis são lágrimas de amor perdido,
minutos calados, sufocados gritos.

Inúteis são lábios pintados,
sem os teus, aos meus adicionados.

Inúteis são coisas estragadas,
boêmios sem madrugadas.
Inúteis são palavrinhas, palavrões,
dores de cotovelo nas canções.

Inúteis são manhãs de ressacas.
Diamantes em mãos fracas.

Inúteis são porta-retratos,
desfilam ressabiados
dentro deles, nós dois.
Mas os dois, do lado de fora,
distantes, magoados, agora,
como os tais porta-retratos,
inutilidades são também.
Então, ali, enquadrados,
inúteis somos os quatro,
e, todo o amor que se tem.

Damáris Lopes Vieira


QUANDO AS GAIVOTAS MERGULHAM?

Quando as gaivotas mergulham?
- procuram por peixes, seu natural alimento.

Quando as gaivotas mergulham?
- procuram por si mesmas no fundo do mar.

Quando as gaivotas mergulham?
- retornam à origem da vida, que se fez nos primitivos oceanos.

Quando as gaivotas mergulham?
- fazem amor com a natureza, eterno renovar da vida.

Quando as gaivotas mergulham?
- sou eu também que mergulho, nas profundezas de Mim!

JL Santos, em 06/01/2007


segunda-feira, 5 de maio de 2008

Quarto de Pensão

Sou pensionista da vida.
Na mesma tábua em que durmo
Escrevo meu trabalho
E ela farfalha, embora já sem folhas,
Só da lembrança de ter sido tronco.
Tenho uma pia no canto,
Que goteja
E é meu lago, meu rio, meu
Fundo mar.
Tenho um rijo cabide
À cabeceira
Para dependurar a pele
A cada noite.
Me dão café com pão, e às vezes
Algum vinho.
Dizem que só paguei meia pensão.

Há uma fome indistinta que me habita
Enquanto o medo
Com felpudos passos
Percorre o labirinto das entranhas.
Mas agradeço essas quatro paredes
E que me tenham dado uma janela.
Pois sei que a qualquer hora
Sem possibilidade de recurso
E talvez mesmo sem aviso prévio
Serei intimada
A devolver o quarto.

Marina Colasanti


domingo, 4 de maio de 2008

“Como guardar – há algum, algum, haverá um,

algum algo algures, tranca ou trinco ou broche ou braço,

laço ou trave ou chave capaz de res-

Guardar o belo, guardá-lo, belo, belo, belo...do desgaste?”

Gerard M. Hopkins