sábado, 29 de novembro de 2008

O que é, o que é?


Que troço esquisito

que começa com para sempre

atravessa até que a morte nos separe

e termina com preferia nunca ter te conhecido?


Estrela Ruiz Leminski



sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A menina, a exorcista e a cantora


Lucélia Rodrigues da Silva. Quando ela tinha 12 anos seus pais a entregaram a uma empresária chamada Silvia Calabresi Lima, em troca de algumas cestas básicas. Porém, em vez de receber carinho e proteção, Lucélia ganhou um passaporte pro inferno.

Silvia percebeu que a menina estava possuída pelo diabo e então, durante quinze meses, manteve-a presa e incomunicável no apartamento, com o intuito, segundo ela própria, de tirar o demo do corpo da menina. Pra isso ela a amordaçava e amarrava, arrancava suas unhas, socava seus dentes, cortava sua língua com alicate e a obrigava a comer baratas e cocô de cachorro. Até que a polícia invadiu a masmorra, quer dizer, o apartamento, libertou Lucélia e prendeu Silvia.

Parece filme, né? Mas é um fato verídico, aconteceu em Goiânia, e você certamente lembra dele. Lucélia foi libertada em mar2008 e hoje está no Cevam (Centro de Valorização da Mulher), uma ONG de Goiânia, esperando ser adotada por alguma família. Lucélia viveu uma tragédia absurda, bizarra, uma coisa inimaginável, que pode comprometer o futuro de qualquer criança. Mas pelo menos o pior já passou, né?

Ô ilusão.

Você conhece a cantora Ana Paula Valadão? Nem eu. Mas muitos evangélicos conhecem, ela é uma dessas popistars gospel, ligada à Igreja Batista da Lagoinha, fundada por seu pai e que tem sede em Belo Horizonte. Igreja Batista da onde? Da Lagoinha. Mas vamos em frente. Lucélia, com autorização da Justiça, foi passear em Belo Horizonte, a convite da cantora, que ficara sensibilizada com o caso da menina. Lucélia, pelo jeito, voltou de lá transformada. Veja o que ela disse, segundo reportagem da revista Veja de 12nov2008:

- Eu me converti em Jesus. Preciso corrigir meu gênio.

Ela também falou sobre sua tragédia pessoal:

- A culpada fui eu. Eu, que não estava tocada por Jesus.

Primeiro a menina é usada como laboratório de novas técnicas de exorcismo. Agora é usada como objeto de promoção de igreja evangélica. Vem cá, seu Juiz, me desculpe a ignorância mas a verdadeira proteção de que essa menina precisa não seria contra religiosos? E esta Ana Paula, por que em vez de converter a menina, não foi levar Jesus pra Silvia, lá no presídio, ela sim deve estar muito precisada. Lucélia não precisa de religião, precisa é de uma família.

Mas nem tudo está perdido. Pelo menos agora Lucélia sabe que precisa de um corretivo pois ela mesma é a culpada de suas desgraças. Louvada seja a Igreja Batista da Lagoinha.

Ricardo Kelmer , Blog do Kelmer


domingo, 23 de novembro de 2008

Arrumadeira


Arrumadeira

No armário
de rasgado calendário
retiro, da hora
de antigo relógio
o ódio
de um episódio.

Do cabide,
pendido,
um pensamento
perdido.

Do fundo do sapato,
o calo de um ato.

Da bolsa, o labirinto
do que sinto.

Do bolso do paletó,
o pó
do humano.

Do pano
franzido do ludíbrio,
o estóico equilíbrio.

Esqueço,
na gaveta vazia,
o dia
em que morri.
(de alegria).

Yeda Prates Bernis



Toque

Alguma coisa acontece
Quando se toca em gente.
Experimente!

Ulisses Tavares



sábado, 22 de novembro de 2008

Para Val e Célio




O ano era 1981, nos conhecemos na sala de aula do “Curso de Especialização para o Magistério Superior”.

Logo nossas afinidades nos aproximaram e formamos um grupo de estudos. Eu, Val, Francisca, Regina Célia, Célio e Edson.

Tínhamos aulas aos sábados de 8 às 17h e a hora do almoço era uma festa.

Nossos pratos eram compartilhados por todos e ao final havíamos comido de tudo.

Voltávamos para a sala de aula cansados, com sono e ali os profissionais que já éramos cediam espaço para os alunos que naqueles dias nos tornamos. Escusado dizer que a “bagunça” era boa.

Convivemos durante 12 meses neste clima de estudo, trabalhos escolares e muito companheirismo.

Continuamos a manter contato por telefone, por cartas já que alguns voltaram aos seus estados originais.

Nestes 27 anos dois já partiram: A Chiquinha, que era nosso super ego e o Edson que era o mais “light” do grupo. Com a Regina Célia perdemos o contato, mas com a Val e o Célio não desatamos nossos laços.

Ontem estava procurando um livro na minha estante e encontrei o livro que o Célio escreveu: “Penitência de um Sonhador”, no qual ele publicou uma poesia que fez para mim.

Vou transcrevê-la como resgate de um período tão enriquecedor em nossas vidas e que deixou marcas muito positivas.

Abraços para vocês, amigos!

REGINA

Reservo-me o direito de conjugar o seu verbo.

Só eu conheço bem:

Seus gostos

Seus amores

Suas explosões.

Atrás destes olhos negros assustados,

Esconde a mais terna criança.

Atrás destas feições, às vezes indiferente

Oculta a mais sensível das mulheres.

Titubear diante do seu olhar penetrante

Da sua firmeza

E de suas convicções, é um tanto fácil.

Embora (quando em vez) enganem até os deuses

Esta sua dureza estatular.

Não sabem eles que o magnetismo da sua força de persuasão

E o feitiço envolvente do charme que você emana, é tão

Abrangente como o ar.

E a estátua de curvas delineadas, cabelos pretos, meiga e

Graciosa, pensa, fala, anda, se derrete ouvindo uma canção

De amor.

Perdoe este amigo que assim a vê, e, que a si reservou a

Exclusividade de conjugar o seu verbo:

REGINEI, REGINO E REGINAREI.

Célio Rodrigues Alves

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Só um olhar...


“Quantas vezes tenho passado perto de um doente,

Perto de um louco, de um triste, de um miserável,

Sem lhes dar uma palavra de consolo.

Eu bem sei que minha vida é ligada à dos outros,

Que outros precisam de mim que preciso de Deus

Quantas criaturas terão esperado de mim

Apenas um olhar – que eu recusei.”

Murilo Mendes in A poesia em pânico


Dia Nacional da Consciência Negra


Foto daqui

"Quando um negro e um branco se abraçam, fraternalmente ou não, a silhueta de suas sombras ficam exatamente iguais".

[Desconheço a autoria]

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A fé que nos ata às esperanças

Solidariedade: Foto de Artur Franco

“A fé é uma espécie de costura que nos ata às esperanças. Por isso luto tanto por uma fé madura. Nada de alienações. O que cremos precisa mudar o que somos. Minha fé em Deus não pode se resumir ao rito de ir à missa. Ela só será realmente eficaz se continuar acontecendo através de atitudes concretas.

Pe. Fábio de Melo, Jornal O Dia, 08/11/08



quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Filhos, melhor tê-los...


Essa reportagem quando li chamou-me bastante atenção pelo desprendimento desse pai em não fazer escolhas e acima de tudo de adotar uma criança com problemas de saúde. E como ele afirma “Eu precisava desse amor incondicional. Eu queria experimentar isso. Foi o Théo quem salvou a minha vida, e não o contrário”

Sérgio D"Agostini nasceu no Rio Grande do Sul, numa família italiana de classe média alta. A mãe, Maria Helena, dedicou-se integralmente aos três filhos. E o pai, Theolindo João D"Agostini, cardiologista respeitado na cidadela de Passo Fundo, encarregou-se do provimento de uma boa educação para a prole. Sérgio estudou medicina e, em 1989, se mudou para Rio. Por aqui, estabeleceu-se na carreira, comprou um loft em Ipanema e passou a curtir tudo a que um homem solteiro e bem sucedido tem direito: noitadas, tardes no Posto 9 e viagens.

Há três meses, Sérgio conheceu Théo, no Educandário Romão de Mattos Duarte, um abrigo para crianças abandonadas, em Botafogo.

A mãe do bebê, segundo consta da papelada de adoção, sempre viveu na rua. E o pai, ninguém sabe, ninguém viu. Théo tinha várias doenças que herdou dos progenitores, entre elas sífilis. Tomava 15 remédios diferentes.

Nessa época, aliás, o menino ainda nem tinha nome. Por obra do destino, Sérgio mudou a vida de Théo. E Théo, claro, mudou radicalmente a vida de Sérgio. Eles viraram pai e filho.

- Eu sempre dizia que chamaria meu filho de Rodrigo.

Mas quando vi a carinha dele resolvi homenagear meu pai - conta Sérgio. - Nas primeiras semanas, foi um caos.

Se o Théo soubesse falar, teria pedido para voltar para o educandário. Ficamos eu e minha mãe, que veio do Sul dar uma força, atordoados. O Théo chorava muito e tinha um ronco constante no pulmão.

Uma noite eu estava tão apavorado que tentei lhe dar mamadeira com tampa.

Pais solteiros estão virando moda no mundo todo (o cantor Ricky Martin, por exemplo, acaba de adotar dois), e o Brasil não é exceção. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, criado em maio, há no país 80 homens esperando pela carta de habilitação, documento que autoriza a entrada na fila da adoção. O número é pequeno se comparado ao de mulheres e casais inscritos - 760 e 6.156, respectivamente. Mas a juíza Ivone Ferreira Caetano, titular da Vara da Infância, Juventude e Idoso no Rio, diz que está, de fato, havendo uma revolução no cenário das adoções, uma total quebra de paradigmas. Só na sua comarca, dois homens - entre eles Sérgio - esperam a guarda definitiva, e outros seis deram entrada no pedido de habilitação. A adoção é regida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que, em vigor desde julho de 1990, autoriza a adoção por maiores de idade, independentemente de raça, gênero, religião e estado civil. A novidade, portanto, é fruto não de alterações na legislação, mas de mudanças comportamentais - afinal, as "novas famílias" permitem qualquer arranjo. A primeira adoção por um homem sozinho foi em 1996, quando o médico Ângelo Pereira virou pai do menino Pedro Paulo, depois de uma longa batalha. O caso era tão inusitado que rendeu um livro: "Retrato em preto e branco: manual prático para pais solteiros".

- O surgimento de homens solteiros se propondo a adotar aconteceu paralelamente à mudança no perfil da família brasileira. As famílias monoparentais hoje são comuns.

E a justiça tem que acompanhar essa transformação - diz a juíza.

Sérgio é a perfeita tradução dessa transformação. Três meses depois de assumir a guarda provisória de Théo, o solteiro bon vivant cedeu lugar ao pai dedicado. A vida está se acomodando aos poucos.

Dona Maria Helena volta e meia desembarca no Rio para paparicar o neto. E Sérgio se vira para ser pai e mãe.

De manhã, ele faz a barba com uma mão só, porque o garotinho gosta de colo quando acorda, às 6h. Às 7h, chega a babá, Jane, e o médico se manda para o consultório, que também fica em Ipanema.

Na hora do almoço, ele faz questão de passar em casa para dar comida ao filho. E às 18h em ponto tem que terminar o trabalho para reassumir o posto: Jane vai embora e Sérgio fica sozinho com o bebê. Sexta-feira era dia de folga, mais precisamente de frescobol com os amigos.

Agora é dia de levar Théo para a natação. O garotinho nem parece o mesmo que chegou à casa de Sérgio com um saco de remédios na malinha.

Esperto, sorridente e extremamente carinhoso, Théo hoje toma metade dos medicamentos e dorme como um anjo. A vida de pai solteiro pode parecer penosa, mas Sérgio garante: vale a pena.

Hoje com 43 anos, ele sonha com esse papel desde os 36, quando decidiu que queria ter filhos, mesmo sem parceria.

- Acho que comecei a questionar o sentido das coisas: por que estou aqui? Para ser médico e cuidar de meia dúzia de pessoas? Para viajar, curtir? Nada parecia ter sentido.

Eu precisava desse amor incondicional. Eu queria experimentar isso. Foi o Théo quem salvou a minha vida, e não o contrário - diz.

(...)

Voltando ao caso de Sérgio, a opção pela adoção foi muito pensada. Como não queria se casar ("Uma mulher não se encaixa na minha opção de vida", diz), sobraram-lhe três possibilidades: ter um filho com uma amiga; alugar uma barriga, moda em voga entre os pais solteiros dos Estados Unidos e da Europa; ou adotar.

Partilhar a criação com uma amiga faria dele um pai de fim de semana. Barriga de aluguel custaria uma pequena fortuna (Sérgio chegou a pesquisar, e encontrou mulheres dispostas a ceder o ventre por entre R$ 60 mil e R$ 100 mil). A adoção, então, lhe pareceu a melhor porta. Em agosto de 2005, o médico entrou com o pedido no Juizado de Menores para adotar uma criança.

Passou por todo o processo judicial, que inclui reuniões de grupo e visitas de assistentes sociais, e, um ano depois, conseguiu a carta de habilitação.

Em junho deste ano, o telefone tocou. Era a assistente social avisando que havia um bebê negro de seis meses disponível para adoção. A moça avisou que o menino trazia uma infinidade de problemas de saúde e perguntou se Sérgio gostaria de conhecê-lo.

- Quando vi a carinha do Théo, me apaixonei. Fui para casa sem saber o que fazer.

Meu coração queria aquele menininho, mas eu não podia assumir uma criança com tantos problemas sozinho. Liguei para todos os médicos que conhecia e não conhecia. Precisava que alguém o visse e me dissesse que ele podia melhorar. Nessa hora, o fato de eu ser médico não adiantou nada - conta Sérgio. - No dia seguinte à visita, embarquei para a França. Pensei: se ele ainda estiver no educandário quando eu voltar, é porque tem que ser meu. Cheguei uma semana depois e liguei. Ele estava lá, mas havia uma família na minha frente.

Até que me procuraram dizendo que o Théo estava no Miguel Couto muito mal e a família tinha desistido. Fui visita-lo com um neurologista.

Quando ouvi dele que não havia nenhum problema grave, eu disse: "É meu filho."

Reportagem de Karla Monteiro, Revista O Globo, 12 de Outubro de 2008


terça-feira, 11 de novembro de 2008

Quem fala o que quer......


Imagem daqui

Em momento de grande infelicidade, o Governador do Rio, chamou os médicos de vagabundos.

Esqueceu-se de quanto o Estado paga a um médico recém contratado e como as Cooperativas atuam, substituindo, muito mal, o Estado como contratante.

Eis a resposta.

Carta de uma médica ao Governador Sergio Cabral


Sabe, governador, somos contemporâneos, quase da mesma idade, mas vivemos em mundos bem diferentes.

Sou classe média, bem média, médica, pediatra, deprimida e indignada com as canalhices que estão acontecendo. Não conheço bem a sua história pessoal e certamente o senhor não sabe nada da minha também. Fiz um vestibular bastante disputado e com grande empenho tive a oportunidade de freqüentar a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, hoje esquartejada pela omissão e politiquices do poder público estadual.

Fiz treinamento no Hospital Pedro Ernesto, hoje vivendo de esmolas emergenciais em troca de leitos da dengue.

Parece-me que o senhor desconhece esta realidade. O seu terceiro grau não foi tão suado assim, em universidade sem muito prestígio, curso na época pouco disputado, turma de meninos Zona Sul ...

Aprendi medicina em hospital de pobre, trabalhei muito sem remuneração em troca de aprendizado.

Ao final do curso nova seleção, agora para residência. Mais trabalho com pouco dinheiro e pacientes pobres, o povo. Sempre fui doutrinada a fazer o máximo com o mínimo.

Muitas noites sem dormir, e lhe garanto que não foram em salinhas refrigeradas costurando coligações e acordos para o povo que o senhor nem conhece o cheiro ou choro em momento de dor.

No início da década de noventa fui aprovada num concurso para ser médica da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro'. A melhor decisão da minha vida, da qual hoje mais do que nunca não me arrependo, foi abandonar este cargo.

Não se pode querer ser Dom Quixote, herói ou justiceiro. Dói assistir a morte por falta de recursos. Dói, como mãe de quatro filhos, ver outros filhos de outras mães não serem salvos por falta de condições de trabalho.

Fingir que trabalha, fingir que é médico, estar cara-a-cara com o paciente como representante de um sistema de saúde ridículo, ter a possibilidade de se contaminar e se acostumar com uma pseudo-medicina é doloroso, aviltante e uma enorme frustração.

Aprendi em muitas daquelas noites insones tudo o que sei fazer e gosto muito do que eu faço. Sou médica porque gosto. Sou pediatra por opção e com convicção. Não me arrependo. Prometi a mim mesma fazer o melhor de mim.

É um deboche numa cidade como o Rio de Janeiro, num estado como o nosso assistir políticos como o senhor discursarem com a cara mais lavada que este é o momento de deixar de lenga-lenga para salvar vidas. Que vidas, senhor governador ? Nas UPAS? tudo de fachada para engabelar o povão!!!!

Por amor ao povo o senhor trabalharia pelo que o senhor paga ao médico ?

Os médicos não criaram os mosquitos. Os hospitais não estão com problema somente agora. Não faltam especialistas. O que falta é quem queira se sujeitar a triste realidade do médico da SES para tentar resolver emergencialmente a omissão de anos.

A mídia planta terrorismo no coração das mães que desesperadas correm a qualquer sintoma inespecífico para as urgências.

Não há pediatra neste momento que não esteja sobrecarregado. Mesmo na medicina privada há uma grande dificuldade em administrar uma demanda absurda de atendimentos em clínicas, consultórios ou telefones. Todos em pânico.

E aí vem o senhor com a história do lenga-lenga.

Acorde governador ! Hoje o senhor é poder executivo. Esqueça um pouco das fotos com o presidente e com a mãe do PAC, esqueça a escolha do prefeito, esqueça a carinha de bom moço consternado na televisão.

Faça a mudança. Execute.

Lenga-lenga é não mudar os hospitais e os salários.

Quem sabe o senhor poderia trabalhar como voluntário também. Chame a sua família. Venha sentir o stress de uma mãe, não daquelas de pracinha com babá, que o senhor bem conhece, mas daquelas que nem podem faltar ao trabalho para cuidar de um filho doente. Venha preparado porque as pessoas estão armadas, com pouca tolerância, em pânico.

Quem sabe entra no seu nariz o cheiro do pobre, do povo e o senhor tenta virar o jogo.

A responsabilidade é sua, governador.

Afinal, quem é, ou são, os vagabundos, Governador ?

Recebi, por e-mail, sem autoria.


Adoção!


Estamos na semana da Blogagem Coletiva sobre Adoção, proposta pela Geórgia e pelo Dácio.

Todos os posts serão transferidos para aqui, assim teremos concentrado em um só espaço as várias abordagens sobre Adoção.



Falar de adoção é um tema difícil e delicado, pois geralmente vem acompanhado de anos de tentativas, tratamentos e frustrações de casais impossibilitados de conceberem, gestarem e darem à luz. Escrito com a cabeça e o coração, este livro esclarece e analisa as apreensões e as expectativas comuns a todos os que estão envolvidos no processo de adoção. Lembre-se, a adoção põe fim ao tédio, ao vazio e à solidão.

Os Caminhos do Coração, Maldonado, Maria Tereza. Editora: Saraiva

sábado, 8 de novembro de 2008

Grandes ocasiões....


“Que bobagem falar que é nas grandes ocasiões que se conhece os amigos! Nas grandes ocasiões é que não faltam amigos.

Principalmente neste Brasil de coração mole e escorrendo. E a compaixão, a piedade, a pena se confundem com amizade. Por isso tenho horror das grandes ocasiões. Prefiro as quartas-feiras."

Mário de Andrade


Frase do dia!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Filhos do coração!


Por que eu te amo?

Quando te vi, pequenina, enrolada em panos, não pensei em nada. Meu mundo ficou silente. Sem buzinas de automóveis, sem prazos de trabalhos a cumprir, sem aqueles pensamentos insistentes, invasores, que assolam a mente das pessoas. Nada. Minha vaidade, minhas economias, minha carreira, minha "qualquer outra coisa", tudo se calou em silêncio arrebatador. Todas as pressões das coisas urgentes e importantes, as atitudes imperiosas, as conquistas sonhadas, nada me surgiu...foi como se tudo isso nunca tivesse existido.

Não havia nada ali naquele momento além de você, mulata, pequena, diante dos meus olhos, me provocando o maior silêncio que já ouvido por um mortal. Nosso primeiro abraço foi comprometedor: cerquei você com meus braços, erguendo-os com a intenção das muralhas protetoras de uma cidade medieval, te enlaçando por um instante de forma tão intensa que seria possível a qualquer laboratório identificar que nosso DNA era o mesmo. Se não o DNA do sangue, com certeza o DNA da alma. A qualquer um era possível ver que aquele homem com cara de português e aquela menina africana eram parte de um grande plano genial e generoso do Criador: eram pai e filha. É um afeto instantâneo e imenso, incomensurável, que faz e desfaz do nosso antigo ser.


Assim, calando minhas fraquezas e desfazendo a correria da vida, você me apareceu. Pronto. Como manter uma coerência com aqueles grandes objetivos profissionais? Como continuar obedecendo à lógica daquela ambição desmedida? Todos os compromissos e valores já construídos ruíram sob uma nova modalidade de sentimento, um sentimento renovador e carismático, que me arrebatou de forma acachapante. Eu não era mais a mesma pessoa de segundos atrás. Estava em paz e feliz.

Talvez as pessoas não entendam esse meu amor por você. Não se pode atribuir algo tão puro às práticas humanas, sempre matizadas pelos interesses mundanos. Nem mesmo às boas ações dos homens, bafejadas pelo altruísmo caridoso. Nada disso nos pertence. Aliás, nós dois sabemos que amor não se explica. Amor se sente. Não há caridade que justifique o amor, mas é o amor que a justifica. E aceito, por amor e caridade, tanto faz, as beijocas que você guarda para mim no fim do dia, como prêmio maior pelas lutas que empreendi.


Quisera eu, querida, que todas as pessoas pudessem saborear esse sentimento: amar alguém que não foi gerada por mim, que não me perpetua com traços físicos semelhantes, que não tem o "sangue do meu sangue", e que permite que a jazida de afeto que trago em meu peito seja explorada e canalizada para um bem-querer. Sim, sentir amor por um filho adotivo me permite realizar algo maravilhoso: alguém que se torna fundamental em minha vida, com quem construo uma relação de amor no cotidiano, este ser especial que eu nunca teria tido a capacidade biológica de gerar!

Enfim é isto: eu jamais teria gerado você, meu anjo. Se dependesse da minha essência animal, limitada e finita, que vai virar pó, eu nunca teria me transformado eu seu pai. O que me habilitou para esta missão foi minha crença profunda e inabalável que o amor de Deus não tem limites e não se submete a tipologias, não se prende com amarras sociais ou raciais. É por isso que te amo, além, obviamente, destes olhos negros e amendoados, que me sorriem, um pouquinho antes de dormir.


Sávio Bittencourt, pai adotivo de Ana, que deu nome à ONG de apoio à adoção fundada por ele, Quintal da Casa de Ana.

Blog: savio.blog.terra.com.br