terça-feira, 7 de maio de 2013

Dignidade não pode ter CEP


Confesso que ao ler ontem o pronunciamento do Marcelo Freixo sobre a operação que matou o traficante Matemático a minha emoção falou mais alto e pensei que ele estava defendendo um bandido. Porém, quando a razão entrou na história entendi seu posicionamento. Não estava defendendo o traficante e sim a forma como a operação foi realizada.
Convivi durante muitos anos com alunos que moravam em comunidades constantemente vítimas de tiroteios entre polícia e bandidos.
Quando lecionava à noite cansamos de liberar alunos mais cedo, pois os pais ligavam para a escola solicitando que seus filhos voltassem para casa porque “o tiro ia comer solto”.
Precisamos sair um pouquinho da nossa zona de conforto e lançar um olhar generoso para aqueles que são reféns dessa guerra que atinge em maior proporção quem vive nas zonas norte e oeste.
Transcrevo parte do discurso do Freixo entendendo que a dignidade não pode ter CEP.


"O que estamos defendendo é que se tenha controle legal sobre as ações de quem responde pelo Estado. Que aja conforme o interesse público. Porque hoje se mata um traficante e a amanhã pode matar qualquer pessoa. Não se trata de uma defesa de um traficante ou outro. O tráfico é cruel, é violento e massacra a vida dessas comunidades, mas o Estado não pode competir com o tráfico de quem tem mais capacidade de ser violento. Tem algo que diferencia o Estado e o crime, que é a nossa necessidade de cumprirmos a lei. E esse episódio precisa ser investigado. Por que o helicóptero estava sozinho, já que não tinha operação por terra? Por que os tiros são dados colocando a vida de terceiros em risco? Não podemos permitir isso. Uma operação como essa jamais aconteceria em outro território que não fosse uma favela da Zona Norte ou Zona Oeste do Rio. A dignidade das pessoas não pode ter CEP. O tráfico é bárbaro, tem que ser enfrentado, mas o Estado não pode abrir mão do seu papel legal. Nós queremos uma política de segurança pública eficaz, que os policiais sejam valorizados, mas que garanta direitos e, acima de tudo, seja comprometida com a dignidade humana", afirmou Marcelo Freixo.

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