Sonhar enquanto lemos livros, desde criancinha, é algo bem corriqueiro. Fazer com que livros transformem a realidade, no entanto, não é pra qualquer um.
A vida me deu a oportunidade de conhecer Aldo e, naturalmente, de admirá-lo.
Deixo como mensagem a crônica em que meu amigo narra como conseguiu comprar uma casa a partir da venda de livros e de muita ajuda amiga.
O projeto que já fez alguém muito feliz, hoje permite que livros usados sejam solidários a dor alheia.
Reciclagem Fina
Há dois anos, tive uma dessas idéias que nascem dentro da gente como rodamoinhos de agosto. Do nada, começam a girar. Como se dançassem apoiados em uma perna, vão girando em torno de um ponto, cada vez mais rápido, arrastando para sua rotação tudo que está em volta.
A idéia era comprar uma casa para um rapaz que vende livros usados na rua, revendendo os livros. A resposta foi tão rápida que, em seis meses, a família do Jorge estava na casa nova. Muitos amigos participaram, comprando, incentivando, doando livros e dinheiro.
Casa do Jorge
Pensei que a compra da casa esgotaria o trabalho com os livros. Que o vento se dissiparia, transformado na felicidade de saber que, como diz a nova esperança e ousadia dos americanos - "sim, nós podemos". Juntos, podemos muito. Mesmo que "juntos" identifique apenas um grupo de pessoas com um objetivo comum.
O que não imaginava era que o fim do projeto - a compra da casa - se configurava em um novo portal. Que o meio para chegar lá é que era a grande descoberta. Que se abria uma possibilidade real de dedicar parte do meu tempo a uma reciclagem fina.
Posso juntar papel, plástico, vidros... e encaminhá-los para reciclagem. É a primeira e mais simples atitude de quem quer continuar o mais tempo possível neste planeta (não falo enquanto indivíduo, mas enquanto espécie). Mas, descobri que posso dedicar parte de meu tempo e transformar livros usados em casas, em doações, em qualquer coisa digna. Desde que minha pretensão seja do tamanho de minhas possibilidades, da motivação que me traz a possibilidade de olhar para o nós em vez de ver o meu umbigo como centro da vida.
A decoração bonitinha que imaginava ter no apartamento onde moro, quando da mudança, foi substituído por um acervo de livros que me tomou todos os espaços disponíveis. Não há caos, não há amontoados, mas não há lugar para projetos que não levem em conta os mais de 2.000 livros atualmente existentes, que me olham com uma cumplicidade reconfortante.
Hoje, não faria um novo projeto do tamanho que foi o de comprar a casa do Jorge, porque exige um esforço, dedicação, disposição para ficar o tempo todo na cola dos amigos. E não fazer mais nada além de catalogar, organizar, limpar...
Também não doaria totalmente o produto das vendas, porque mantê-las tem um custo.
No entanto, há sempre um pequeno projeto ou instituição necessitando de uma força, de um empurrãozinho na hora que a torneira das contribuições mingua. Ou mesmo uma pessoa que precisa de um abraço.
Na última enchente em Santa Catarina, a Marília, que participou comprando, doando livros, divulgando o projeto primeiro, mandou uma mensagem sobre uma comunidade de Itajaí que estava literalmente afogada. Claro que, além de uma doação, divulguei para os meus amigos o pedido. E muitos responderam com o coração, ampliando a solidariedade.
Edna - Uma mulher especial
Nos últimos dias, uma amiga que mora no interior de São Paulo, a Edna, que também participou do projeto da casa do Jorge, me contou que a filha de 20 anos está precisando, urgentemente, de uma bateria de exames médicos, para tentar descobrir a causa e a cura de uma doença que provoca desmaios com freqüência. Uma das consequências é que a imprevisibilidade e constância dos desmaios impedem a garota de trabalhar. Ninguém emprega ou a mantém em qualquer emprego depois de algum tempo.
A Edna é a solidariedade no seu sentido mais puro e permanente. Está sempre lutando contra um turbilhão de problemas e, mesmo assim, tem sempre uma palavra, um carinho, uma ajuda efetiva para algum vizinho ou mesmo um casal de passarinhos que se aninha nas árvores de sua casa. É sempre um porto seguro, apesar das provações da vida e, entre uma crise e outra, pinta belíssimos quadros.
Apesar de uma vida de dificuldades, que lhe mina as economias, a Edna se mantém firme no comando do navio de sua vida, vencendo as tempestades com a firmeza e o sorriso de quem acredita que neste planeta estamos mesmo de passagem. Os tantos "nãos" que recebe são reciclados na oficina amorosa que ela teceu ao longo dos anos, inspirada nos seus mestres espirituais, e transformados em SIM, sempre que alguém precisa de seus cuidados. Sem dinheiro para ajudar às vítimas de Santa Catarina afogada, ela se prontificava a recolher e levar as doações dos vizinhos para os postos de recolhimento.
Seu exemplo e firmeza me servem de estímulo e fé. Então, resolvi dedicar a venda dos livros para conseguir os R$ 800,00 necessários para os exames da filha.
Não vou falar com nenhum amigo, em especial, dos livros que tenho na minha "livraria", agora permanente. Não vou pedir que comprem qualquer coisa. Cada um descobre seus próprios caminhos. Cada um se alimenta de suas próprias crenças. Minha intenção é dizer-lhes que o projeto continua e que, se algum livro lhes interessar, se preferirem adquiri-lo comigo invés de comprar num sebo qualquer, o porto está aberto, os livros expostos, as listas (mesmo que sempre bastante desatualizadas pelo fluxo de livros que entra e sai) continuam à disposição. Tenho vendido também através do site www.estantevirtual.com.br., que é uma revolucionaria forma de democratizar a leitura e circulação de livros. Vale a pena conhecer.
Para ver os livros que mantenho à venda no site, basta colocar no google: Aldemisio ou ir direto para o link
http://www.estantevirtual.com.br/acervos/aacorde. Eles remetem para o site, já aberto no acervo. No site, vendo no máximo, 200 livros. Em casa, todo um acervo constantemente ampliado. Aos interessados, enviarei as listas divididas por estante.
Ainda ecoa na minha mente a frase dos americanos: "sim, nós podemos." Tomara que eles e todos nós coloquemos em prática esta crença, transformando-a em caminhos para a libertação dos nós que nos mantém com a sensação de impotência e de descrença e para a conquista da felicidade possível, através da solidariedade e do amor, a cada momento.
Aldo Cordeiro
“Tenho amigos tão bonitos. Ninguém suspeita, mas sou uma pessoa muito rica.” Caio Fernando Abreu
10 comentários:
É possível transformar sonhos em realidade, basta acreditar e colocar mãos a obra.
Parabéns pro Aldo!
Que exemplos maravilhosos de pessoas de boa vontade. Isso é o céu, não é Rainha? rs
Abraço fraterno.
Aldo é a semente boa. Que a cada leitura desta página da Regina, seja mais uma sementinha do bem à germinar neste nosso mundo tão carente de atitudes sérias e solidárias.
Paz e bem ao Aldo que transformou livros em sonho e a Regina que alcançou a beleza de também sonhar.
Doraci
Exemplos como o do Aldo nos fazem acreditar que é possível transformarmos a realidade, basta querer.
Regina, chegamos de férias, e tô passando para um abraco. Esses seus sonhos, realizados, é muito bom, nao?
E as primeiras árvores para o nosso Movimento Natureza já estao sendo plantadas e de um modo super especial. Veja quem foi a primeira a plantar sua árvore e de um modo bem especial. http://novitazinha.blogspot.com/2009/04/quase-um-conto-de-fadas.html
Um abraco
Regina, menina que encanta desde as primeiras palavras lidas, olá!
Sou Edna, mãe da Aninha, a amiga que o Aldo está ajudando a conseguir um tratamento melhor através da venda dos livros.
Não sei descrever a minha gratidão a esse anjo enviado por Deus. Também não sei como agradecer a vc pelo empenho em divulgar a campanha, então eu peço a Deus que lhes retribua tanto carinho, tanta dedicação.
Muito obrigada, Regina. Vc já tem também um lugar especial em meu coração.
Edna
"A realidade de hoje foi o sonho de ontem; o sonho de hoje será a realidade do amanhã ..." Parte de uma frase de Charles Chaplin.
Há que se ter, no entanto, muita, muita persistência. A vida, sabemos, é dura ! E persistir, ter esperança, acreditar é essencial ! Parabéns ao Aldo pelo belo trabalho e a vc, querida Regina, pela divulgação e por ter esse coração do tamanho do mundo ! Bjs !
Rê
Tenho alguns livros para doação. Você tem com o fazer chega-los ao Aldo?
Abs.
Recebido por e-mail do Aldo:
uau... estou no seu blog.
Essa história de ajudar os outros é bem interessante:
a gente ganha sorrisos e amigos.
a gente realiza uma utopiazinha. Pequena mas real.
a gente fica feliz com a felicidade de alguém.
a gente para de olhar pro próprio umbigo e se sente mais integrado.
o ego da gente se sente bem, pelo reconhecimento de outras pessoas pelo que fazemos.
a gente para de tentar ver a ESPERANÇA e vai colhendo esperançazinhas pelo caminho.
a gente dimensiona a religião (qualquer uma) para sua dimensão mais prática, simples, sem barreiras. O sagrado passa a ser a consequencia de um amor possível, sem divagações teológicas.
a gente serve de exemplo.
nosso travesseiro acolhe nossa cabeça com muito aconchego.
nossos neurônios se exercitam, criando formas de participar, de ajudar.
...
Tem mais coisas, que a gente vai descobrindo pelo caminho, em cada campanha que participa.
Não existe exclusividade. Quanto mais gente for descobrindo esse caminho melhor. Tem lugar pra todos. É como carinho: quanto mais se faz mas se tem pra fazer.
bjs,
Aldo.
Querida, você me contou sobre a ideia do Aldo e o belo desdobramento que aconteceu. Mas, ler sobre, agora, me emocionou ainda mais.
Fico muito feliz toda vez que fico sabendo de lindos gestos de amor e solidariedade. Fico pensando também que eu preciso descobrir novos jeitos para somar nesse mundo.
"Juntos, podemos muito", disse o Aldo. Eu acredito que sim.
Tudo isso é muito inspirador.
Obrigada, amiga, por me proporcionar esse instante de alegria por meio de mais uma confirmação dessa certeza.
Beijos
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