Foto: Anna Clara Carvalho
Há pessoas que são como instituições.
Quando, de repente nos damos conta,
já levamos a multa para casa
com pagamento obrigatório
dali a dez dias.
Há pessoas com cara de guiché,
ar de recibo verde e
voz com tom de carimbo.
Há pessoas que são como eléctricos
e, quando damos por isso,
já elas correm sempre em frente
nos seus carris de todos os dias.
Há pessoas que são como barris de vinho;
não têm furos, não deixam escapar nada
e quando, num ápice, deixamos escapar um sorriso,
já elas estão cilindradas por medos e fobias,
que por muito que tentemos não conseguimos
descobrir quais são.
Há pessoas que trazem nos dentes impressos
como autocolantes senhas numeradas para
manter ordens que, mesmo desordenadas,
devem apitar no ecrã e parecer muito direitas.
Há pessoas que nos levam da vida como uma onda,
que vem só às vezes; pessoas que se deixam
embrulhar em laços e parecem
nunca mais querer endireitar-se.
Há pessoas que são como balcões
encerrados para balanço,
que cegam como nós dados nos
cordões dos sapatos,
que ardem como sumo de limão nos lábios
e que se evaporam como o fumo de um chá quente.
Há pessoas que lembram ovos cozidos e outras
que lembram músicas e letras.
Há pessoas que usam chapéus de palha
e soltam gargalhadas como se fossem
de rir as outras pessoas.
Há pessoas que são como feiras de carros usados;
pessoas que parecem de colar;
pessoas que lembram filetes de pescada
deitados em travessas de inox;
pessoas que são de decalcar.
Há pessoas que são tantas pessoas
que todas juntas parecem uma pessoa só.
Maria Amaro
Um comentário:
Há pessoas que sao feitas para caminhar ladao a lado...
Boa semana
Um grande beijo
Postar um comentário