sábado, 15 de maio de 2010

A dor do inexplicável



Querem matar o quê, nessas crianças? Já houve criança arrastada até a morte, crianças no lixo, criança jogada da janela, crianças afogadas, crianças assassinadas a machadadas na China há poucos dias. E agora esta perua do mal. Não foi um acesso de loucura. Houve método. A menina foi adotada pelo prazer da tortura. Por que essa brutalidade? Desde o Édipo que seu pai mandou matar até Herodes, a criança mobiliza fascínio e amor. E também medo e ódio. Por quê? Sempre procuramos uma causa, mas vivemos o tempo do insolúvel. Talvez ataquem crianças, porque nos evocam um tempo de esperanças, coisa do passado. Será o ato hediondo uma vingança contra a falta de futuro? Esses crimes vão além da punição. Eles nos dão uma pista de algo que se forma no ar do tempo. Não apenas por causas sociais. Esta perua rica o prova. O mal está em todos nós e está à solta. Não há como coibi-lo com punições que nos aliviem. O mal renasce. Guerras mundiais, holocausto, Hiroshima. Mas não sabemos ainda que novo mal é este. Não conhecemos a solução, nem o problema. O que dói em nós é a falta de sentido, a dor do inexplicável.

Arnaldo Jabor (Jornal da Globo de 13/05/2010)

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