Em criança gostava muito de brincar de professora. Colocava meus bonecos sentados e como eram poucos, completava a “turma” com garrafas de refrigerantes. Assim tinha uma classe numerosa. Vivia cercada de papéis, quadro negro, apagador, giz e lápis de colorir.
Tínhamos um amigo da família que um dia me deu um caixote muito grande, acho que era de transportar bacalhau, e ali eu fiz a minha escola.
Ao completar o ginásio já tinha vontade de ser psicóloga e cursar o antigo curso normal não me daria embasamento para fazer o vestibular para Psicologia. Optei por fazer o curso científico e não me formei em professora primária.
Durante a minha graduação, fiz matérias pedagógicas para poder tirar a licenciatura em Psicologia.
Comecei, ainda no 4º ano, a lecionar para turmas de Formação de Professores.
Profissão que sempre exerci com muito prazer. Aprendi muito com meus alunos, minha memória afetiva guarda lembranças que marcaram momentos especiais da minha vida.
Em 1981, passando por um momento delicado da minha vida, vendo meu 1º casamento, que só tinha 3 anos, começando a desmoronar, andava triste, mas procurava não passar esse sentimento em sala de aula.
Naquela época tinha vontade de ganhar um ursinho, assunto que nunca havia comentado com alguém, pois após o expressar do meu desejo o presente poderia chegar, mas não teria graça, gostaria de ganha-lo porque achava um presente fofo.
Dia de aniversário, chego à sala de aula e encontro uma festa surpresa, alunos prepararam um livreto com dedicatórias em páginas individuais e acompanhado desta relíquia, o presente: O urso tão desejado.
Não preciso dizer que chorei horrores de emoção. Como podiam aquelas meninas de 15, 16 anos, terem tanta sensibilidade, perceberem o meu momento, momento que precisava de colo, de acolhimento?
Como adivinharam o presente que durante anos eu sonhei em receber?
A cada dia me apaixonava mais pelo processo ensino-aprendizagem, pela troca com o outro, pelo ensinar e aprender.
Tive um amigo, Carlos, professor de Literatura que a cada vez que eu chegava à sala dos professores falando meus projetos, comentando as aulas, o desempenho dos alunos, ele dizia que eu tinha “orgasmos pedagógicos” e todos riam dessa minha motivação, que para alguns, era exacerbada.
E assim durante 31 anos trabalhei com Formação de Professores. Há dois anos me aposentei no Estado, não sentia mais motivação em preparar professores para atuar em turmas de 1ª a 4ª séries que não tinham amor à profissão, que não chegavam ali por um ideal e sim através de um sistema de matrículas que encaminha o aluno para a escola mais próxima de sua residência. Fui me decepcionando e não queria ser cúmplice num sistema de ensino capenga, sem valores, sem ideais.
Penso que o Professor deveria chamar-se PROFESSAR.
Professar idéias,
Professar paixão pelo outro,
Professar o respeito pelo aluno,
Professar o sentimento da gratidão,
Professar o amor pela profissão.
Obrigada a todos os alunos que passaram na minha vida profissional, hoje muitos são meus amigos pessoais, que me fizeram CRES- SER!
Registro meu carinho especial para amigos professores pelos quais nutro uma profunda admiração:
Aída Gonçalves Ferreira, Anna Maria Lima, Denise Feresin, Elka Carvalho, Filipe Couto, Geni dos Santos, Georgete Lopes, Jaqueline Moulin, Jayme Nunes, Luana Siqueira, Maria Alice Ferreira, Maria Lucia, Marília Soares, Miriam Sofiatti, Nilce Aguilera, Mônica Paiva, Roberto Leal, Silvio Ferreira, Valdelice Gomes, Vilme Lobianco.
E aos meu mestres inesquecíveis:
Dra. Nise da Silveira , Professor Antonio Soares Malveira , Professora Maria das Graças, Professor Helio Alonso, Professor Julio , Professora Vilma Longo e Tia Alba, minha 1ª professora.
Publicado no Recanto das Letras em 15/10/2010
Código do texto: T2558783
2 comentários:
Mestra querida
Deixei um comentário lá no Recanto.
Muitos abraços.
Meu Senhor amadoooooooooo!!!!
Mirian Sofiatti, essa humilde Mimi aqui, homenageada aí!!
Obrigada! O que mais posso dizer para demonstra a gratidão?
Obrigada, Rê!
Uma verdadeira honra!
Beijos
Mi
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