quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Psicologia e Psicologias: oficialismos e libertação

La ronde Art Print by Mai-Thu


Completamos mais um ano – o 46º – da regulamentação de nossa profissão no Brasil. Estas datas oficiais,que marcam um momento importante na institucionalização de uma prática, podem e costumam ser comemoradas com palavrórias, festividades, discursos, homenagens, do tipo do “lirismo bem comportado funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestação de apreço ao senhor diretor”, de que falava Manuel Bandeira nos versos de sua “Poética”.

Não é esta a Psicologia que queremos saudar; falamos de uma outra, que surge das ruas,dos becos,das favelas,das periferias,das prisões, dos hospitais, dos tribunais, das fábricas, das cidades e dos campos, de onde quer que haja um ser humano que precise de nós, psicólogos (as), e que a nós ainda não tenha acesso, por condições econômicas, políticas, sociais ou culturais. É esta a Psicologia a que nos referimos, que surge no dia-a-dia, que ousa romper com os saberes humanos e sociais institucionalizados, bonitinhos, bem-comportados, naturalizados, obedientes, passivos e submissos às práticas e aos poderes estabelecidos, e que estes saberes tão bem amparam e justificam.

Nós preferimos esta Psicologia, assim como Manuel Bandeira quer “...antes o lirismo dos loucos / o lirismo dos bêbados / o lirismo difícil e pungente dos bêbados / o lirismo dos clowns de Shakespeare”. Esta Psicologia nos ajudará a cumprir nossa plataforma, de ética e compromisso social.

Manuel Bandeira termina seu poema clamando: “Não quero mais saber do lirismo que não é libertação”. Esperamos poder levantar a mesma bandeira: não queremos mais saber da Psicologia que não é libertação.

Editorial - Jornal do CRP - RJ ano 5 - nº 18 - Agosto 2008.

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