quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Choque de Ordem


Quando o novo prefeito do Rio anunciou que faria um choque de ordem na cidade, muitos de nós, os moradores daqui, gostaram da idéia. Ninguém pode negar que o Rio esteve abandonado nos últimos anos em questões urbanas básicas: saúde, educação, transito caótico, vendedores de ruas em excesso etc.

No caso dos ambulantes, o que eu imaginava, no entanto, seria uma ação mais inteligente, mais humanitária, que levasse em conta não apenas a imagem das ruas vazias, mas a situação social em que estes trabalhadores ficariam após o anunciado choque.

Todos os dias, fala-se de crise econômica, de desemprego, de pessoas vivendo à margem da sociedade. Com a fachada de melhorar a imagem da cidade, o que os agentes da Prefeitura têm feito é um verdadeiro assalto a milhares de pessoas que vivem vendendo pelas calçadas.

Não foi feito qualquer levantamento anterior, um mapeamento por bairro para saber quem poderia continuar vendendo ou quem não poderia. Não foi dado um prazo e criado facilidades burocráticas para que alguns desses camelôs regularizassem sua situação. Ninguém perguntou aos moradores dos bairros se eles querem que todos os ambulantes saiam de seus pontos. Aqui no Flamengo, por exemplo, tem alguns que vendem seus produtos há dezenas de anos e são queridos pelos moradores. Por que devem ser simplesmente varridos da paisagem?

Foi mais simples para a Prefeitura empurrar todas essas pessoas para uma situação de crise social mais aguda.

Caberia uma pergunta aos idealizadores destas ações: que alternativa o governo municipal oferece a esses trabalhadores depois de tomar os seus produtos? Que novos postos de trabalhos serão abertos para absorver essa mão de obra? Porque é lógico imaginar que eles querem trabalhar, pois era isso que faziam antes da nova tropa de choque jogar a sua fonte de renda em cima de um caminhão da empresa de limpeza, como se fosse lixo.

Seria interessante saber se as forças políticas que se dizem ligadas aos interesses do povo e que apoiaram a eleição do novo prefeito concordam com as ações na forma que vêm acontecendo. E saber se as entidades que normalmente se pronunciam sobre questões sociais estão acompanhando a ação dos agentes policiais.

Para colocar ordem na cidade, não basta agir como se faz em um cemitério ou em um quartel (até porque, no quartel, o soldo e o rancho estão garantidos). É preciso levar em conta as necessidades e possibilidades de sobrevivência digna dos que habitam o espaço público, muitas vezes por falta de outras opções.

Aldo Cordeiro, Rio de Janeiro, 09 de janeiro de 2009

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