Dia de uma criada de servir
e seu lamento calado
I
- Maria!
- Minha senhora?
- O banho está arranjado?
Quero a casa toda limpa!
E o almoço aprontado!
Lamento:
“Levantei-me ainda
noite
sono – solto – amordaçado...”
II
-Maria!
-Minha senhora?
-Quero o vestido passado!
A mesa que esteja posta!
E o menino lavado!
Lamento:
“Desde as cinco da manhã
que não respiro
não paro...”
III
-Maria!
-Minha senhora?
-Sirva o café
Escove os fatos!
Trate as pratas!
Lave a loiça!
Limpe o chão que está molhado!
Lamento:
“Desde as cinco da manhã
Que escovo – limpo
Que lavo...”
IV
-Maria!
-Minha senhora?
-O menino está lanchado?
Vá começando o jantar!
Quero este fato engomado!
Lamento:
“Desde as cinco da manhã
que não me sento
nem falo...”
V
-Maria!
-Minha senhora?
-Depressa dê-me o casaco!
Esteja a pé quando eu voltar!
E o menino deitado!
Lamento:
“Desde as cinco da manhã
que obedeço
e me calo...”
Maria Teresa Horta, In Poesia Completa – Vol. 2 , Litexa - Portugal
Nenhum comentário:
Postar um comentário