sexta-feira, 6 de junho de 2008


O Feijão e o sonho

Minha filha ainda não aprendeu a andar de bicicleta e pede-me sempre que a ajude a andar sem as rodinhas, mas reclama que eu tenho tido pouco tempo para ensiná-la, assim como para as trezentas e dez outras brincadeiras dela. E mais uma vez eu lhe prometi que a encontraria nos sonhos e que nós andaríamos o tempo que ela desejasse, e brincaríamos todas as brincadeiras das suas fantasias. Ela voltou a repetir-me que está tendo dificuldades de encontrar-me e assim não vai conseguir nunca. Apesar do esforço, ela não tem me visto nos sonhos, ou não lembra. Há qualquer coisa de pungente e arrebatador nos argumentos de uma criança e há qualquer coisa que me salva dos meus desacertos, no amor de minha filha. Eu não tenho como lhe explicar que, também, minha vida já não anda sem rodinhas, e que cada vez mais eu tenho dificuldades de fugir dos sonhos dela, embora pareça que viver, por vezes, é sempre irmos nos despedindo dos sonhos de alguém..

César Oliveira

Nenhum comentário: