terça-feira, 5 de julho de 2011

Neste mesmo instante...

Neste mesmo instante
há um homem que sofre,
um homem torturado
tão somente
por amar a liberdade.

Ignoro onde vive,
que língua fala,
de que cor é a sua pele,
como se chama,
mas neste mesmo instante,
quando os teus olhos lêem
o meu pequeno poema,
esse homem existe,
grita,
pode-se ouvir o seu pranto
de animal acossado,
enquanto morde os lábios
para não denunciar os amigos.

Ouves?
Um homem, só, grita
amarrado,
existe em algum lugar.
Eu disse só?
Não sentes, como eu,
a dor do seu corpo
repetida no teu?
Não te brota o sangue
sob os golpes cegos?

Ninguém está só.
Agora,
neste mesmo instante,
também a ti e a mim
nos mantêm amarrados.

José Agustín Goytisolo
Tradução de Antonio Miranda

Um comentário:

Marcia disse...

Vivemos amarrados nem sempre com correntes físicas, mas as vezes com correntes mentais.