quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Adolescentes e Autonomia: a metáfora da pipa

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Quem já empinou pipa sabe que o segredo para o sucesso da brinca­deira está em aproveitar a força e a direção do vento para fazê-la subir e depois, quando já no ar, saber tensionar a linha, pois quando muito esti­cada rompe-se, fazendo com que a pipa solta se perca pelos ares, ou, ao contrário, quando muito frouxa, leva a pipa a rodopiar nas alturas e cair.

Temos o conhecimento de que o jovem adolescente, objetivando a au­tonomia adulta, vez por outra não apresenta ferramentas que lhe permitam um posicionamento autônomo. Assim, trata-se de um tempo de construção de autonomia, e não uma época de um comportamento autônomo.

Por esse motivo, recorro à representação da pipa. Ao “dar linha" , lança­mos nossos adolescentes para as escolhas e decisões que já são capazes de fazer. Não podemos cerceá-los, pois corremos o risco de estar possibilitando a formação de adultos irresponsáveis.

Todavia não podemos confundir autonomia com irresponsabilida­de. Os novos jovens precisam ser responsabilizados pelas suas ações, pois, se ser autônomo é "ser dono do próprio nariz", também significa saber cuidar, ser responsável pelo próprio nariz. O saber cuidar só se consolida quando ocorre um exercício de responsabilidade pelas esco­lhas realizadas e pelas conseqüências que delas possam advir.

Por outro lado, os pais não podem se esquecer de que, se tensão demais arrebenta a linha da pipa, tensão de menos faz com que ela perca a estabi­lidade e o sentido.

Deixar o adolescente solto, sem limite ou sem orientação, é uma omissão do papel educativo que deve ser exercido pelos pais. Há momentos em que, pressionados pela mídia e pelos pares, os adolescentes sentem-se oprimidos e incapazes de reações de enfrentamento a determinadas pressões. É hora de puxar e enrolar a linha para reconduzi-lo a uma postura de equilíbrio.

Pais e mães comprometidos com a educação de seus filhos não devem ter medo de dizer não. Devemos esclarecer que pais não são "coleguinhas" e que, algumas vezes, mesmo correndo o risco de sermos tomados como antipáticos, temos a responsabilidade de impor alguns limites.

Os pais, então, têm a árdua tarefa de "puxar" e "soltar" o filho, como possivelmente fizeram com a pipa, quando crianças, até que se atinja o obje­tivo da educação, ou seja, que ele saiba" gerenciar" a angústia das escolhas e vivê-las de forma intensa.

Francisca Paris, In Almanaque Saraiva, Outubro 2008.



4 comentários:

Mimi disse...

Muito bom o texto!
Deveria ser lido, relido e "trelido" pelos pais dos nossos alunos!
O professor hoje, além de ser especialista em sua área de conhecimento,em muitos e muitos casos, é também o que precisa fazer o sagrado papel dos pais...
Só teremos Educação de qualidade, se conseguirmos a parceria dos que deveriam também educar em casa!
Beijos!

waldomiro neto disse...

essa ilustração da pipa.. é minha eu que a desenhei..

fico muito feliz que tenha gostado dela...

porém fico triste de ver ela sendo utilizada sem permissão e também sem os devidos créditos...

:(

Regina Coeli Carvalho disse...

Waldomiro,
Desculpe-me não foi minha intenção burlar direitos da sua foto. Quando pesquisei, com certeza, não havia referência ao autor.
Estou retirando-a.
Abraços.

Mimi disse...

Waldomiro....
A ilustração nos "canteiros" da Regina estava tão linda!
Bem que você poderia autorizá-la e além do mais, divulgar seu belo trabalho...
Perdemos todos!
Fico triste eu também!