segunda-feira, 30 de julho de 2012

Cartas de amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz


19-6-1920

Meu Bebé pequenino:

Ainda talvez podia ir esperar-te lá acima, mas não me disseste onde, nem me dás a certeza das horas. Não quis telefonar-te por duas razões — a primeira porque é desagradável telefonar assim, mesmo dando um «recado» fingido, para uma casa onde é o teu primeiro dia; depois porque não tenho telefone, de onde fale sem me ouvirem, e não quero falar-te de modo que outros ouçam. Os três telefones, onde às vezes falo, são, um no Café Arcada, e aí falar é falar em público; outro, na Papelaria Vieira, que está nas mesmas condições; o terceiro num escritório onde vou e esse telefone é no meio do quarto principal, onde estão os empregados.
Aguardo, pois, combinação melhor e ocasião propícia para te falar e ir esperar para os lados da Av. Almirante Reis.
A empresa continua em organização. Eu estou mal de saúde e de nervos, mas isso não tem importância. Mal tenho tempo para escrever.
Amanhã passo na tua rua, vindo da Baixa, e portanto do lado do Conde Barão, entre o meio-dia e meia hora e a uma hora.
Adeus, minha Íbis. Além de tudo estou muito cansado.
Muitos beijos do teu, muito teu

Fernando

In, Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz

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