Milton Cunha,
Impecável sua coluna no “O Dia” de ontem.
Lamento somente não ter citado o Caso Joanna Marcenal que se
arrasta há quase dois anos no vai e vem
da Justiça e no esquecimento de grande parte da imprensa brasileira.
Fadas, reis e
madrastas aqui e agora
Os contos de fadas nos revelam todo o mistério da alma
humana. A psicanálise interpreta esses personagens como metáforas, símbolos de fases
e acontecimentos importantes na vida de todos nós. Chapeuzinho Vermelho, por
exemplo, seria o grande momento em que a menina vira mocinha (sangue,
menstruação, cor vermelha). E o desejo sexual da menina tem no caçador o grande
objeto.
Mas Branca de Neve é a maior de todas as histórias, porque primeiro ela nos coloca de frente com o perigo que toda criança corre: o ódio de alguns adultos. E tem vindo de algumas madrastas os atos tresloucados que tanto nos comovem. Claro que tem madrasta que é melhor que mãe e mãe que é pior que madrasta. Mas não é dessas que estamos tratando aqui. E segundo: a criança pode ser interpretada pelo algoz como prova de que existe amor verdadeiro, e isso ser insuportável para o doente que a matará. Por exemplo: no caso Nardoni, a menina Isabela era amadíssima pela mãe e, em sua doçura, despertou a cruela que não podia conviver com o fruto de um amor. Era preciso destruí-la e, mais que isso, convencer o pai de que isso era imprescindível.
Tem também a amante que sequestrou a filha do casamento de seu homem, levou para o motel e matou a menina. Essa deve ter sacado que feriria mais o pai matando a filha que matando a esposa. E, mais que isso, achou que destruiria o casamento deles de forma definitiva, colocando entre eles o cadáver de sua filhinha. Nunca menosprezem essas doidas. Elas raciocinam para o golpe ser certeiro.
E agora o pequeno negrinho da têmpora roxa, da perna quebrada, dos olhinhos fechados em silêncio profundo de indagação: o que eu fiz? Por que eu? Pois o pequeno anjo todo amassado, que tanto resistiu até não mais poder, é ele quem de novo nos joga na cara a figura que nem os contos de fadas ousaram imaginar: o pai biológico, que, enredado pela madrasta, avança contra a carne de suas carnes, pedaços dele mesmo, para aniquilar, destruir, fazer perecer.
Madrastas não pariram, não fecundaram, não têm a relação misteriosa da maternidade e da paternidade, energia gigantesca que desperta a proteção do lobo e da leoa. Mais que isso: a criança é a prova de que pelo menos desse ato elas estão fora, que sobre aquilo elas não têm ingerência. Para mim, a incógnita ainda mais insondável de todas é o momento final em que os pais, convencidos por veneno ou feitiço que desconheço, avançam contra o sangue de seu sangue e matam a semente de beleza que plantaram. Não se quebra osso de um filho sem o punhal cravado no próprio peito.
Mas Branca de Neve é a maior de todas as histórias, porque primeiro ela nos coloca de frente com o perigo que toda criança corre: o ódio de alguns adultos. E tem vindo de algumas madrastas os atos tresloucados que tanto nos comovem. Claro que tem madrasta que é melhor que mãe e mãe que é pior que madrasta. Mas não é dessas que estamos tratando aqui. E segundo: a criança pode ser interpretada pelo algoz como prova de que existe amor verdadeiro, e isso ser insuportável para o doente que a matará. Por exemplo: no caso Nardoni, a menina Isabela era amadíssima pela mãe e, em sua doçura, despertou a cruela que não podia conviver com o fruto de um amor. Era preciso destruí-la e, mais que isso, convencer o pai de que isso era imprescindível.
Tem também a amante que sequestrou a filha do casamento de seu homem, levou para o motel e matou a menina. Essa deve ter sacado que feriria mais o pai matando a filha que matando a esposa. E, mais que isso, achou que destruiria o casamento deles de forma definitiva, colocando entre eles o cadáver de sua filhinha. Nunca menosprezem essas doidas. Elas raciocinam para o golpe ser certeiro.
E agora o pequeno negrinho da têmpora roxa, da perna quebrada, dos olhinhos fechados em silêncio profundo de indagação: o que eu fiz? Por que eu? Pois o pequeno anjo todo amassado, que tanto resistiu até não mais poder, é ele quem de novo nos joga na cara a figura que nem os contos de fadas ousaram imaginar: o pai biológico, que, enredado pela madrasta, avança contra a carne de suas carnes, pedaços dele mesmo, para aniquilar, destruir, fazer perecer.
Madrastas não pariram, não fecundaram, não têm a relação misteriosa da maternidade e da paternidade, energia gigantesca que desperta a proteção do lobo e da leoa. Mais que isso: a criança é a prova de que pelo menos desse ato elas estão fora, que sobre aquilo elas não têm ingerência. Para mim, a incógnita ainda mais insondável de todas é o momento final em que os pais, convencidos por veneno ou feitiço que desconheço, avançam contra o sangue de seu sangue e matam a semente de beleza que plantaram. Não se quebra osso de um filho sem o punhal cravado no próprio peito.
Milton Cunha, O Dia 24-07-2012
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