quarta-feira, 21 de maio de 2008

Carta ao Tempo


"Ao tempo perdido

Onde você foi parar? Como você some assim sem avisar? Por onde você escapou que não vi? Contava com a sua presença para fazer algumas coisas, que adoro, mas para as quais não me sobra nem um minuto.

Dizem que o tempo perdido não volta jamais, no entanto custo a acreditar que você seria capaz de me largar de uma maneira depois de tudo que vivemos. Será verdade que o tempo é cruel? Terão sido em vão os lindos momentos que desperdiçamos juntos? As horas e horas pensando besteiras, com minhas intermináveis elucubrações?

É, quando se é jovem, o tempo que se perde não faz muita falta. Você passava e eu nem ligava. Agora, corro atrás de cada instante que, um dia, joguei fora sem dar a devida atenção.

Querido tempo, queria muito que você voltasse. Poderíamos ir a um cinema, jantar fora, passear à toa pelas calçadas. Com o tempo ao seu lado, a vida definitivamente fica mais fácil.

Sei que você não pára, que também está sempre na correria, como eu, contudo não perco a esperança de ainda ter você inteiro, só pra mim. Vejo, no espelho, as marcas que você me deixou, e muitas outras delas quero ter antes de a morte chegar.

O que posso prometer para que você retorne? Que eu vou aproveitar você melhor? Que vou dar mais valor às suas sábias lições? Que não te perderei mais por bobagens?

Ajoelho-me diante de você, inestimável tempo, e juro: nunca mais vou vacilar contigo, pois sei que todos te querem e te desejam. As mulheres mais lindas e os homens mais ricos perseguem você por todos os lugares, oferecendo de tudo para ter mais um pouco de sua companhia.

Tudo gira em torno de você, tempo, eu sei. Poetas te cantam, gênios te estudam, líderes te seguem. E eu continuaria dias e dias tecendo as mais belas considerações a teu respeito, mas temo que estaria perdendo ainda mais de você fazendo isso.

Devo, entretanto, avisar que não pretendo te esquecer nem deixar você em paz. Pode correr, pode fugir, que vou em busca de você, onde estiver. Cancelarei compromissos, emendarei feriados, mas tenho certeza de que te encontrarei de novo. Nem que seja por um só segundo.

Quem sabe, então, quando estivermos frente a frente, verei que você não se foi em vão, que foi porque tinha mesmo que ir, passando em silêncio como o tempo deve passar.

E que, na sua falta, não o terei perdido, porém eternizado.

Saudades,"

Fernanda Young, Revista Claudia

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