Das Inutilidades
Inúteis são pesadelos,
comidas sem tempero,
brigas no trânsito,
adornos no cabelo.
Inúteis são lentes coloridas,
olhos que não têm vida.
Inúteis são lágrimas de amor perdido,
minutos calados, sufocados gritos.
Inúteis são lábios pintados,
sem os teus, aos meus adicionados.
Inúteis são coisas estragadas,
boêmios sem madrugadas.
Inúteis são palavrinhas, palavrões,
dores de cotovelo nas canções.
Inúteis são manhãs de ressacas.
Diamantes em mãos fracas.
Inúteis são porta-retratos,
desfilam ressabiados
dentro deles, nós dois.
Mas os dois, do lado de fora,
distantes, magoados, agora,
como os tais porta-retratos,
inutilidades são também.
Então, ali, enquadrados,
inúteis somos os quatro,
e, todo o amor que se tem.
Damáris Lopes Vieira
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