As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões
As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões
E muitas transformam-se em árvores cheias de ninhos - digo,
As mulheres - ainda que as casas apresentem os telhados inclinados
Ao peso dos pássaros que se abrigam.
É à janela dos filhos que as mulheres respiram
Sentadas nos degraus olhando para eles e muitas
Transformam-se em escadas
Muitas mulheres transformam-se em paisagens
Em árvores cheias de crianças trepando que se penduram
Nos ramos - no pescoço das mães - ainda que as árvores irradiem
Cheias de rebentos
As mulheres aspiram para dentro
E geram continuamente. Transformam-se em pomares.
Elas arrumam a casa
Elas põem a mesa
Ao redor do coração.
Daniel Faria, In Homens Que São Como Lugares Mal Situados (1998)
3 comentários:
Rê, muito obnito !!!!
Sensibilidade e verdade pura!
Parabéns pelo post.
Beijos no coração.
Mestra,
Você sempre nos apresentando poetas novos.
Que lindo!
Quanta verdade consabida passa despercebida, mas se renova quando se traduz numa metáfora! Essa é a missão da poesia, fazer estranho o que nos é familiar.
Aprendo sempre ao vir aqui.
Abraço fraterno.
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