É “PRA CABÁ”
Que vergonha! Quando imaginaria estar quebrando todos os rigores gramaticais do nosso tão imaginativo léxico camoniano tomando como título palavras que só cabem no lamentável fluxo de poucas e erradas palavras usadas pela maioria de nossos jovens!?
Mas, de verdade, não tem expressão mais lídima do que essa para descrever a barbaridade, a estupidez e a desfaçatez como foi tratado o problema sobre o cancelamento das provas do ENEM (3 e 4 de outubro).
Têm alguns “abençoados” que reclamam e protestam quando afirmamos que este governo não é sério. Pois, diante de tantos e de tantas formas desqualificadas de como tratar a coisa pública, devo dizer: É muito mais do que “não sério”. É degradante. É lamentavelmente cômico. É tragicamente engraçado. É triste ver um país onde o que deveria ser o ministério mais sério, depois da saúde, o da Educação, tendo pessoas que tratam o sonho de nossos jovens como se algo fútil fora.
Ainda não sei se riem às nossas custas ou de nossas custas. Estariam rindo de si mesmos na maior cara dura, sem o menor pudor? Ou se acham únicos paladinos de um índice intelectual que não suspeitam, ao mínimo, que possamos ser tão “inteligentes e perspicazes” quanto eles?
Não é possível. Quem sabe, acreditam que somos um bando de imbecis, desarvoradamente imberbes que qualquer tonto nos engana com a maior das facilidades!?
Será que somos extraterrenos? Será que estamos vivendo em outra galáxia onde as coisas que acontecem
Posso, como fiz diante de meus alunos, logo após o anúncio do cancelamento das provas do Enem (3 e 4 de outubro), dizer, pelo menos, o que sinto, sem ser mais uma vez malhado pelos pungentes aficionados deste governo e outros que jazem no túmulo da ignorância e que se despertam quando alguém se insurge contra algo e o barulho os acorda?!
Para quem vive a realidade cotidiana de nossos alunos que se preparam com ardor para atingir o sucesso e a aprovação no vestibular no Curso que sonham realizarem-se profissionalmente, sabe o quanto sofrem e o quanto isso atrapalha seu emocional num momento em que tudo pode avacalhar seu melhor resultado.
Comentei com nossos alunos e professores que a data do Enem 2009 não estava correta. Era possível fazê-lo, em outros anos, em qualquer mês depois de julho, ou mesmo antes de julho. A finalidade precípua era a verificação e avaliação do aprendizado dos alunos, principalmente, os concluintes do Ensino Médio. Com a atual finalidade, qual seja a de servir como vestibular para muitas Universidades ou parte do Vestibular de algumas ou como forma de preenchimento de vagas remanescentes em outras, o valor e a dimensão do Enem deveria ter outra conotação, respeito e tratado com maior responsabilidade.
Como poderia se pensar em dar esse dimensionado valor e abrangência para o Enem sendo a data de 03 e 04 de outubro, inicio do quarto bimestre letivo em todas as escolas do nosso Brasil!? Essas datas não permitiriam contemplar os alunos concluintes do Ensino Médio, pois não teriam visto nada, no quarto bimestre, dos conteúdos constantes de cada disciplina.
Então, permitam-me pensar que não tendo coragem e ousadia de trocar a data, porquanto ficaria mal para os organizadores, viram se na contundência de inventar um acontecimento que pode tornar-se a mais esfarrapada farsa, a da descoberta de uma prova que vazou.
Vejamos o que o Sr. Ministro Fernando Haddad afirmou numa entrevista no programa “Bom Dia Brasil” da Rede Globo, do dia 01 de outubro, quinta feira: “O Ministério da Educação dispõe de "um banco de itens" com "uma nova prova elaborada" para ser aplicada em substituição à avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que seria realizada no fim de semana, mas foi cancelada por causa de fraude revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo”. E mais: Segundo o ministro, “as questões do banco de dados foram preparadas para esse tipo de eventualidade”.
Sintam nessas palavras o que deixa como suspeita: “Os indícios são fortes de que houve a subtração de um exemplar. Chegou ao nosso conhecimento, por uma jornalista do jornal O Estado de S. Paulo, uma descrição do que ela foi capaz de ver, nas mãos do criminoso, e a equipe técnica do MEC foi à sala-cofre do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e constatou que a descrição que ela fazia correspondia a alguns itens da prova", contou o ministro. "Nós não vimos o material", disse Haddad, "até porque ele não o entregou para a jornalista, mas, diante da evidência, não nos resta outra opção a não ser adiar a aplicação da prova e reformulá-la, porque essa prova impressa está comprometida." Começa falando em indícios e conclui falando em evidências.
Patética é a forma como o Ministro se refere ao problema(?) causado para mais de 4 milhões de estudantes: “Assegurou que não haverá consequências para os estudantes inscritos. Quem está inscrito permanece inscrito. Basta aguardar a nova data e usar o tempo que ganhou em função desse incidente para continuar estudando normalmente, como se fosse fazer a prova daqui a algumas semanas".
No Jornal Nacional, da última quinta feira, foi noticiado pelo Ministério da Educação que as novas provas do Enem custarão ao cofres públicos, R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais).
Sem comentários...
Quem estará se importando com dispêndio de dinheiro gasto pelos pais e pelos próprios alunos que pagaram antecipadamente Hotéis, viagens e outros translados até os locais das provas? Quem se importará com o dinheiro gasto por eles pagando cursinhos de preparação específica para o Enem? Quem se importará com o emocional abalado de tantos candidatos que espreitando a chegada da realização das provas debruçaram sobre os livros e apostilas buscando algum reforço a mais? Não será muito mais arrasador o preço pago pelo atropelamento do emocional em detrimento do que poderiam ter ganho com mais dias para a realização das provas? Quem já foi postulante a uma vaga numa Universidade pela via do Vestibular sabe o que significa mais 30, 40 ou 45 dias de espera como previu o Sr. Ministro.
Bom dia e melhor semana é o mínimo que posso desejar a todos os estudantes do Brasil que se sentiram prejudicados.
Benê Cantelli é professor da Rede Objetivo lecionando Geo-Humana e Econômica alem de Filosofia.
Lançou em Julho de 2009 o livro “Nos piores momentos os melhores encontros”.
Contato: cantelli@terra.com.br
4 comentários:
"Novas provas do ENEM custarão trinta milhões de reais", besteira, enquanto isso no país do faz de conta pessoas morrem por falta de atendimento nos hospitais, violência aumentando assustadoramente e investimento na educação aquele tiquinho que conhecemos.
Na semana do Dia do Mestre lembro-me daquele professor do Chico Anísio: o salário OOOOOOOOO!
Chega de descaso!
Falta de respeito com milhares de estudantes!
Mas pensando bem....como se rouba tanto, aquele funcionário deve ter pensado o que é roubar uma provinha no meio de tanto desvio?
Parabéns professor pelo seu texto!
Desde o início fiquei sem palavras. Mas é imprescindível que algué fale, como o Benê. Seria imprescindível mesmo que a sociedade toda não se calasse. Mas a sociedade é algo de muito abstrato... É preciso algo como uma nova desobediência civil.
Abraços.
Teríamos que imitar o Bene, que conheço pessoalmente e muito o admiro pela pessoa e profissional que é.
É necessário que essa coragem seja multiplicada... estamos a cada dia assistindo mais e mais abusos! Até quando é possível suportar? Saúde e educação sem verbas, aposentados sem o direito de viver com dignidade... etc, etc...
Mas gastos indevidos por todos os cantos, pode?
Parabéns Bene pelo texto! Parabéns Rê pela publicação no seu blog.
Bjs
Oi RÊ, estou atrasada em comentar, mas tenho que falar! Benê, me apresentado por Mimi, tornou-se para mim uma referencia em saber e logica educacional. Adoro seu modo simples e pratico de dizer as coisas que não conseguimos dizer mesmo quando esta tão na cara! Este livro de coletaneas é maravilhosos, Mimi me presenteou, e estou e fiquei e passarei muito tempo encantada com suas palavras.
Meus parabéns pelo post....fantastico!!!
Beijos no Coração!
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